Jorge Jesus: "Ataque posicional, pressing constante e mais concretizadores"

ANTEVISÃO

É com duas vitórias somadas e duas exibições plenas de qualidade e confiança na Liga NOS que o Benfica entra em campo no domingo (18h30, na Luz) na receção ao Farense, um jogo referente à 3.ª jornada. O míster Jorge Jesus anteviu a partida frente ao adversário algarvio, que voltou à 1.ª Divisão, e não tem dúvidas do que quer ver dentro das quatro linhas...

Em crescimento, a personalizar-se e a querer muito ganhar! Do outro lado vai estar uma formação algarvia organizada e à espera de um erro adversário, que o Benfica, concentrado e atento, tem como objetivo não permitir. Jorge Jesus, numa conferência de Imprensa realizada neste sábado no Benfica Campus, lançou um duelo à semelhança dos anteriores (Famalicão e Moreirense). O processo continua a desenrolar-se naturalmente e pede-se, isso sim, mais golos para tanto que é produzido!

O Farense, equipa onde jogou e que agora regressou à 1.ª Divisão depois de 18 anos, defrontou o Benfica num jogo-treino na pré-temporada. Que adversário espera encontrar neste domingo no Estádio da Luz?

Fico extremamente satisfeito pelo Farense ter regressado à 1.ª Divisão. É um clube onde gostei bastante de jogar. Faro é uma cidade de futebol, que tem paixão pelo futebol e fico feliz por regressarem ao escalão máximo. Quanto ao jogo, penso que se irá enquadrar dentro daquilo que foi o encontro com o Moreirense. Apesar de termos jogado com o Farense na pré-época, este desafio não irá ter nada a ver. Vão querer ser um conjunto organizado defensivamente, vão querer surpreender-nos numa bola parada ou no contragolpe e estes serão os momentos de jogo que poderão ter maior importância para eles. Nós vamos passar, quase de certeza, a maior parte do tempo em ataque posicional, num pressing constante, porque é este o nosso ADN. Já o fizemos com o Famalicão, com o Moreirense e será assim com o Farense. Haverá sempre uma tentativa rápida da conquista da posse de bola da nossa parte quando não a tivermos. Será um jogo baseado nestes fatores. Iremos criar várias oportunidades e esperamos ser ainda mais concretizadores do que aquilo que fomos no último desafio.

Tem sido muito frontal com os jornalistas... Vertonghen está recuperado? Vai a jogo frente ao Farense? E Otamendi, vai jogar?

Vertonghen não vai a jogo! Teve uma lesão complicada, fraturou um osso da cara, é uma lesão grave. Vai estar fora do jogo [Farense] e se houvesse jogos a seguir também estaria. Também não está em condições de ir à seleção da Bélgica, pois não tem condições para jogar. Quanto ao Nico, ao Otamendi – é Nico porque ele gosta que lhe chame Nico e é mais fácil –, vai jogar! É um jogador que ainda não conhece as nossas ideias e rotinas, mas conhece o jogo, tem muita experiencia e vem de uma equipa onde jogou ao mais alto nível. Não direi que está bem fisicamente, não está, mas só vai estar se treinar e jogar... Ainda por cima ele está convocado e vai logo a seguir para a seleção da Argentina. Está na minha cabeça que ele vai jogar, mas amanhã [domingo] de manhã ainda há treino e pode haver algum problema... De COVID não, porque o teste já saiu e está tudo bem! Se tudo correr bem, vai jogar. Não vai jogar com o Ferro, mas sim com o Jardel.

Que confiança lhe dá a dupla de centrais Otamendi-Jardel?

Escolhi o Jardel para jogar ao lado de Otamendi porque ele trabalhou comigo vários anos, conhece as minhas ideias defensivas, apesar de não serem iguais, pois não sou o mesmo treinador que fui quando estive [pela primeira vez] no Benfica. Tenho outras ideias, mas há coisas que ainda mantenho. Jardel, André Almeida, Samaris e Pizzi já trabalharam comigo e têm essa vantagem. Por isso é que a dupla para este jogo não será Otamendi-Ferro, mas Otamendi-Jardel, exatamente porque, dentro daquilo que penso, Jardel pode ajudar mais Otamendi.

Ferro é um jogador com quem conta?

Claro que conto com ele. O Ferro é um jovem que teve dois anos em que o seu rendimento foi diferente. A equipa também teve, e creio que cobraram muito ao atleta. Ele está a tentar assimilar as nossas ideias. Não é um jogador muito rápido, mas estamos a tentar melhorar essa característica nele. Para além disso, queremos que seja um jogador mais confiante. Ele não é um jogador para sair.

Estamos a poucos dias do fecho do mercado. Tem alguma garantia de que vai receber mais reforços?

Garantia não temos. Todos sabem, desde a primeira hora em que cheguei ao Benfica, que andámos à procura de jogadores que estivessem dentro das condições e das características que achávamos importantes. É conhecido que, para além do Darwin, eu queria outro avançado, mas isso teria de ser dentro das características que eu acreditava que podiam beneficiar a equipa. Se não aparecer, e eu creio que não irá aparecer, tendo em conta que faltam apenas três dias para o fecho do mercado, dificilmente isso poderá acontecer. Neste momento não é uma prioridade, seria apenas prioridade se tivesse aparecido algum central dentro das características que queria e que o Benfica não tinha. Se não aparecer mais nenhuma oportunidade, iremos continuar com os jogadores que temos até à próxima janela de transferências, porque estou muito satisfeito com o plantel atual.

Quanto ao central Rúben Semedo, apesar de ter dito que não vai acontecer, que é muito difícil, ainda tem esperanças de que ele possa chegar?

É um dos jogadores que eram prioridade do Benfica, e vou dizer porquê. Primeiro, é português; segundo, já trabalhou comigo um ano. Como sabem, há um limite de inscrições nas competições europeias e isso facilitava as inscrições de outros jogadores estrangeiros nos 17... O Rúben Dias saiu e entrou um estrangeiro. Isso está a limitar-nos ao nível das inscrições que podemos fazer! Ser português era um fator importantíssimo, e o outro é a qualidade dele como jogador. Está mais jogador, está na Seleção e não tenho dúvidas de que, mais ano, menos ano, ele e o Rúben Dias serão a dupla da Seleção Nacional. Não tenho muitas esperanças de contar com ele porque o Olympiacos percebeu que o Benfica está muito interessado e quis pôr as fichas todas na mesa ao mesmo tempo. Ou eles tiram as fichas e pode ser uma hipótese, ou... O jogador quer vir para Portugal, o jogador quer vir para o Benfica e quer vir trabalhar comigo. Agora, não sei se vai conseguir.

Vinícius, melhor marcador do Benfica no Campeonato na época passada, saiu. Por que motivo foi transferido?

Se pensarmos um bocadinho, é fácil de perceber, não tem nada de anormal. Quem normalmente tem procura no mercado são os melhores. Se são os melhores, é natural que o Vinícius, melhor marcador do Benfica [no Campeonato] na época passada, tenha procura no mercado. O Rúben Dias teve procura porquê? Porque é um grande jogador! Quem tem procura são os melhores. Entendemos que temos alternativas para que o Vinícius pudesse sair, com a inclusão do menino Gonçalo Ramos, que vai ser convocado para este jogo. A situação dá-nos uma abertura para este jogador, não por ser jovem, porque eu não olho a isso. Olho para os jogadores que têm valor. Jovens e velhos, isso para mim não existe. O que conta é ter valor! Na última equipa que treinei, lancei um menino de 17 anos, que passado seis meses foi vendido ao Real Madrid por 30 milhões de euros, e na minha equipa eu tinha um jogador com 34 anos e outro com 35, na direita e na esquerda, mas quem jogava era o miúdo. Porquê? Porque eu achava que ele tinha condições para jogar. É assim que vejo os jogadores, não é pelas idades.

Recebeu algum alerta da SAD de que Vinícius era um jogador para transferir?

Eu queria ter os melhores comigo. Para atacar um acesso à Liga dos Campeões, numa fase tão inicial, ter apenas os melhores não chega. É preciso ter muito mais tempo de trabalho. As vendas foram em função daquilo que é o mercado e daquilo que é o conhecimento, cada vez melhor, da equipa, e daquilo que eram as prioridades de mercado. Os jogadores que tiveram sempre maior procura foram o Rúben e o Vinícius, e o treinador tem de entender quais são os interesses da equipa, mas também do Clube.

Nos últimos dias tem-se falado muito do tempo útil de jogo... Há duas épocas Portugal tinha o pior índice, no ano passado o 4.º pior. É uma questão cultural? É algo que contribui para desvalorização do futebol português?

É um tema que já discuti na Arábia Saudita e lancei esse repto. Esse tema, da paragem de jogo, acontece nos campeonatos com menos qualidade, e é por isso que tive esse problema na Arábia Saudita. Em Portugal, se acontecer novamente isso, é porque as equipas não têm argumentos técnico-táticos para saber defender melhor, ganhar mais tempo, com ou sem bola. Isso é um dado, e ninguém tenha dúvidas! Quando as equipas são mais equilibradas esse dado não se põe tanto... Não quer dizer que num ou outro momento de jogo, a faltar um ou dois minutos para acabar, isso até possa acontecer. Agora, há equipas cujos jogadores com 15 minutos de jogo já se estão a mandar para o chão. E quem? O guarda-redes. Porquê? Porque assim o jogo não pode andar... Esse indicador/argumento demonstra se o Campeonato português, no que toca às suas equipas, está mais equilibrado ou não.

Que comentário faz ao sorteio da fase de grupos da Liga Europa? O Benfica está no Grupo D com Standard Liège, Rangers e Lech Poznan...

Não direi se o grupo é fraco ou forte, é o que nos calhou. Duas das equipas adversárias têm alguma história, Standard Liège e Rangers... Respeito pelos adversários, mas não é tema para confundir os nossos objetivos, somar pontos no ranking (não é só ser apurado...) para ver se o Benfica sobe e se entra nos dez primeiros, isso é que me interessa.

Texto: Diogo Nascimento, João Sanches e Sónia Antunes

Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica