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Futebol
01 julho 2019, 19h00
Bruno Lage
A mensagem a passar aos jogadores, a metodologia a aplicar nesta fase, o papel dos adjuntos, os jogos de preparação até à Supertaça, o(s) sistema(s) tático(s), os reforços, o rendimento e a qualidade de jogo a apresentar... O técnico fala de tudo isto e muito mais...
Como foram as férias? Deu para desligar do futebol e do Benfica?
Do Benfica, não. Estive sempre ligado e em contacto para preparar a época da melhor forma. Relativamente ao futebol, não acompanhei muitos desafios durante as férias. No entanto, tive de observar muitos jogos e neste momento o Wyscout é uma ferramenta muito importante para o treinador, porque em qualquer lado podemos estar a observar e podemos estar a trabalhar.
Nas férias, para sair à rua foi necessário chapéu e bigode postiço?
Foi. Chapéu e óculos, o bigode não consegui arranjar [entre risos], mas mesmo assim as pessoas reconhecem-me. Aquilo que me deixa satisfeito não é por ser conhecido, mas sim por ser reconhecido pelo trabalho que fizemos. Não vou mudar nada na minha vida, vou continuar a frequentar os mesmos espaços. Se de alguma forma puder, quando há este tipo de contacto, falar um pouco com as pessoas que me vão abordando, isso pode ser positivo. Eu não quero mudar, mas também não quero que as pessoas me mudem, por isso tem de ser aqui um pouco de pedagogia, de troca de ideias para que as pessoas percebam que é muito importante ter o meu espaço. Há o Bruno que representa a figura do treinador do Benfica, neste momento. Quando estou no meu trabalho, eu sou o treinador do Benfica e as solicitações têm de ser de acordo com a posição. Quando as pessoas me abordam nessas circunstâncias eu paro, saio do meu carro e estou um pouco com elas. Quando vou no meu dia a dia, pela rua, ou num restaurante, não são as pessoas que vão ao meu encontro, sou eu que estou a viver a minha vida. Quando estou na minha vida, com a minha mulher e o meu filho, gostava que as pessoas respeitassem esse espaço, porque eu ao final do dia sou só o Bruno.
"Todos os dias temos de dar respostas muito positivas. É esta a mentalidade"
É filho de um ex-treinador e é irmão de um treinador, o Luís Nascimento. Em família desligam-se do futebol?
Nós só falamos de futebol desde miúdos. Costumo dizer que durante muitos anos, ou praticamente a minha vida toda, fui o filho do Lage, e agora é ele, principalmente nestes últimos cinco meses, o pai do Lage. O meu pai foi jogador de futebol, em determinada altura seguiu a carreira de treinador e ficámos habituados a vê-lo como treinador. O meu primeiro sonho era ser professor de Educação Física e depois era ter uma carreira como a do meu pai. Consegui fazer outro caminho, e o meu irmão [Luís Nascimento] também seguiu o caminho do pai, do irmão e temos feito cada um, de forma diferente, o seu caminho. Por um lado, com passos seguros, mas por outro com traços claros daquilo que foi o percurso do meu pai.
O seu irmão agora é adjunto de Carlos Carvalhal. Já pensou nesse jogo em que vai defrontar Carlos Carvalhal, mas, acima de tudo, onde vai defrontar o seu irmão?
Ainda não, eu não consigo pensar a essa distância, mas, além do Carlos e do Luís, vou defrontar também o João Mário, que era o outro adjunto. É uma pessoa fantástica, um excelente treinador e um amigo para a vida. Para já, o que eu consigo pensar é no primeiro dia, no primeiro treino e na conversa com os jogadores, porque é assim que eu trabalho, mas com certeza que será um jogo muito competitivo, dentro e fora de campo.
"Chegar à Supertaça o mais próximo possível do que foi o Benfica na última época"
O seu filho chama-se Jaime. É verdade que é uma homenagem também a Jaime Graça?
Foi um pedido que fiz à minha mulher quando soube que era um menino. Tinha de ser Jaime Lage. Jaime para homenagear o Jaime Graça e Lage para homenagear o meu pai, mas também para de alguma forma ter o nome com que as pessoas me conhecem. Eu sou o Bruno Lage por ser filho do Lage. O meu nome é Bruno Miguel Silva do Nascimento e ninguém me conhecia, por isso é que o meu irmão é Luís Nascimento e ninguém me conhecia por Bruno Nascimento. Era o filho do Lage, ou o Lage, ou o Bruno Lage, e foi a partir daí que surgiu isso. O Jaime [Graça] porque foi realmente uma pessoa muito importante na minha carreira e na minha vida pessoal, o Lage para ter o nome do avô e também o nome pelo qual o pai é conhecido.
O fato de treino e o casaco são superstições?
Em Inglaterra usávamos o fato oficial como fato de entrada e saída do estádio, mas o normal é vestir o fato de treino, ir para o jogo e estar de fato de treino, e eu acho que é assim que eu me sinto. O que tenho visto, pelo menos nos últimos dez anos, é que se liga muito à imagem do treinador. Em jeito de brincadeira, é: deem-lhe um fato e façam dele treinador. Eu acho que não é assim. Cada vez mais temos de olhar para aquilo que é o trabalho e a competência de cada um e não para a imagem que cada um representa. É um facto, nós temos uma imagem, temos de chegar a determinado sítio ou evento e apresentar-nos de forma conveniente. Depois da primeira imagem há uma consequência. É normal criarmos uma primeira opinião consoante a forma como as pessoas se apresentam, mas às vezes essa opinião nem sempre corresponde à verdade. Temos de conhecer a pessoa, a situação. Independentemente do que cada treinador ou do que cada indivíduo possa vestir, é fundamental as pessoas conhecerem-se em profundidade, e atualmente isso é muito difícil.
"Quem deixar de treinar com a intensidade desejada não tem espaço"
Qual a mensagem a passar aos jogadores na primeira conversa na nova época?
A primeira mensagem terá fundamentalmente a ver com aquilo que acabámos de fazer. Fizemos algo que ninguém estava à espera, foi uma 2.ª volta brilhante, onde fizemos apenas um empate e, como é sabido, o facto de termos as seis deslocações aos seis primeiros da classificação ainda tornava esta tarefa mais difícil. A primeira mensagem aos jogadores tem de ser: uma entrada muito forte e determinada na época! Se pensarmos que podemos entrar na época à sombra do sucesso, porque depois ainda temos tempo para recuperar, estamos enganados. Não é nada disso que pretendemos, antes pelo contrário, queremos é dar continuidade ao que nós fizemos. De uma forma tranquila, todos os dias temos de dar respostas muito positivas. É esta a mentalidade que temos de ter, é esta a mentalidade que este Clube quer ter e é isso que nós temos de fazer. A segunda mensagem é que, independentemente do trabalho de cada um deles, quem deixar de treinar com a intensidade desejada, quem deixar de correr, quem deixar de jogar em equipa, não tem espaço para jogar. A nossa entrada na época tem de ser determinada, treinar a mil, treinar logo com forte intensidade, porque não há espaço para entrar relaxado. Temos de ter uma afirmação nacional e internacional de acordo com o clube que representamos.
Qual é a sua metodologia para o período de pré-temporada?
É tentar aproximar, desde o primeiro dia, tudo aquilo que pretendemos que a equipa represente em campo logo em treino. É verdade que temos de ter algumas preocupações, o espaço de férias é cada vez menor, o jogador também se prepara de uma outra maneira, por isso a entrada na época é feita de outra maneira e começamos a preparar a equipa para jogar. Perceber muito bem que podemos fazer determinados exercícios, eventualmente na segunda, terceira ou na quarta semana, sempre numa intensidade muito alta, mas com a solicitação e o tempo de recuperação um pouco diferentes para de alguma forma os jogadores começarem a habituar-se ao esforço pretendido. O nosso grande objetivo é que a equipa, logo desde o primeiro dia, comece a treinar e a adquirir comportamentos que queremos que tenha nos jogos. A nossa entrada na época é para preparar o primeiro jogo de treino, que é contra o Anderlecht [10 de julho], e a partir daí começamos a trabalhar de acordo com a resposta que os jogadores forem dando em termos físicos e técnico-táticos, e começamos a desenhar o resto da pré-época.
"Trabalhamos para apresentar um plantel fortíssimo na próxima época"
Como é a relação com os seus adjuntos? Como é feita a partilha de tarefas?
Enquanto adjunto tive a oportunidade de trabalhar com muita gente, essencialmente com o Carlos Carvalhal, que nos dava uma liberdade total para tirar o melhor de cada um de nós. Depois, quando criei a minha equipa técnica com dois homens da casa, o Fernando e o Veríssimo, e com a oportunidade de trazer dois homens comigo, o Alexandre Silva e o Johny Conceição, houve um espaço na Equipa B onde tivemos a oportunidade de nos conhecer pessoal e profissionalmente, e também para eu perceber o que cada um pode dar, deixando-os confortáveis nas suas funções. Dar-lhes a orientação para aquilo que eu não consigo pela falta de tempo, porque é impossível controlarmos tudo. Cada um com a sua tarefa bem definida e total liberdade para a fazer. Na equipa principal, juntamente com o Pietra e o Marco, todos temos funções muito específicas e ao longo das semanas o trabalho vai todo no mesmo sentido. Vamos fazer os treinos até ao Anderlecht e a partir daí para os outros jogos é sempre igual, é analisar aquilo que vamos fazer no jogo, preparar o jogo seguinte, desenvolvendo aquilo que é a nossa forma de jogar, mas simultaneamente também preparar o jogo em termos estratégicos em função daquilo que são os pontos fortes e fracos do adversário.
Os cinco jogos da pré-temporada são suficientes para a equipa se apresentar bem a 4 de agosto na final da Supertaça?
Um período muito curto de férias, um período muito curto de pré-época... Vamos fazer a primeira semana ainda sem os jogadores que estiveram a representar as seleções, por isso, vamos ter praticamente duas semanas em que vamos olhar só para aquilo que é nosso e a partir daí começar a olhar também para aquilo que é a estratégia para os jogos seguintes. Com esses cinco jogos, e com essas três/quatro semanas de trabalho, vamos tentar apresentar-nos da melhor maneira para o jogo da Supertaça.
"Respostas dão-nos caminhos"
No período de pré-época, se tiver de olhar para o jogo vai fazer as substituições em função da preparação da equipa ou em função do jogo?
Em função das duas coisas, mas o mais importante é que será em função da resposta que os jogadores forem dando, porque vamos tentar criar condições para que todos tenham a oportunidade de jogar. Independentemente do estatuto de cada um, daquilo que fizeram no passado, a resposta que forem dando nos jogos é que vai ditar aquilo que vai acontecendo nos jogos seguintes. O previsto é construirmos desde o primeiro dia até ao jogo do Anderlecht, a partir daí vai sendo da análise que vamos fazendo no treino, da evolução de cada um e da forma como a equipa se vai comportar no desafio com o Anderlecht. Vamos ter de preparar sempre as coisas de uma forma teórica, mas a resposta de cada um e a resposta da equipa é que nos vai levar por outros caminhos.
O Benfica vai mudar alguma coisa na sua forma de jogar, ou estamos perante um processo de continuidade em relação ao que era na época passada?
Será um pouco dos dois porque sempre que há a entrada de um jogador, esse jogador vai trazer o seu contributo pessoal à equipa, e cada um tem o seu perfil e características muito próprias que nos podem dar outra dinâmica. Aquilo que fizemos na época passada tem um pouco da minha ideia, mas tem muito daquilo que são as características dos jogadores, e esse é que foi o caminho, olhar para as respostas de cada um deles e perceber o que se pode fazer em função disso. Jogar com Seferovic e Félix é uma coisa, jogar com Jonas e Félix é outra, jogar com Seferovic e Jonas é outra. Em termos gerais os comportamentos estão lá, mas as dinâmicas e o que cada um coloca em campo é completamente diferente. Jogar com Pizzi na direita ou jogar com Pizzi no meio é outra. O mais importante é ter os grandes princípios bem definidos, que toda a gente perceba o que se quer fazer quando estamos a atacar e quando estamos a defender, qual o tipo de transições que devem executar, mas aquilo que cada um oferece ao jogo permite-nos que as nossas ideias ganhem outra dimensão em função daquilo que os jogadores conseguem representar em campo.
"Afirmação nacional e internacional de acordo com este Clube"
A ideia é manter o 4x4x2?
Em princípio será essa a base [4x4x2], mas há dois ou três jogadores que nos podem dar a oportunidade de jogar de outra forma. Mais importante do que o sistema é as pessoas olharem para o jogo e identificarem que aquela é a equipa que nós queremos a jogar e que vimos na época passada. Uma equipa a ter a iniciativa, que quando perde a bola tem uma transição forte, que quer recuperar a bola, que defende em bloco com forte pressão e que quando ganha a bola, em determinados momentos, em dois três passes está perto da baliza para chegar ao golo. É essa equipa que pretendemos apresentar, é com essa ambição que vamos começar a época para jogarmos de forma alegre, para divertirmos o nosso público.
Fala-se muito de duas correntes, os românticos e os resultadistas. Onde é que Bruno Lage se situa?
Queremos jogar bem e queremos ganhar. Faz-me um pouco de confusão quando alguém diz que só desta forma é que vou chegar ao sucesso. Quando há imensas formas de chegar ao sucesso, o mais importante é eu ter as minhas ideias, as minhas convicções, mas também olhar para o grupo, para os jogadores e perceber isso. Por exemplo: quando temos um jogador como o Rafa, em que por vezes o seu jogo parte muito de arrancadas (ele, a bola e o que está à frente dele, como foi o exemplo do golo com o SC Braga), vamos colocá-lo amarrado a uma posição e a poder dar só um toque? Tem de haver um equilíbrio. Percebo que há muito a ideia do jogo do Barcelona e do Manchester City, e que este é o grande jogo, mas há outros. Há o saber defender bem, há o saber transitar bem, o fazer muitas coisas bem e o sucesso de uma equipa parte muito disto. Como treinador, tenho de olhar para os jogadores e perceber aquilo que cada um vai oferecer, porque, se eu tirar esta liberdade ao Rafa de poder fazer aquilo que ele faz, ele já não vai ser o mesmo jogador, não vai dar o mesmo contributo e perde-se isso, que é uma coisa muito boa que ele tem.
"Temos de provar em campo o nosso valor e a nossa ambição de voltar a vencer"
Os jornais deram conta de que Bruno Lage queria 23 jogadores no plantel. É este o número que realmente deseja?
Não tem de ser um número fechado. O mais importante e o primeiro passo do nosso sucesso foi reduzir para ficarmos mais fortes. Pretendo que o jogador tenha oportunidade de lutar por um lugar. Se eu tenho dez posições em campo, tirando os guarda-redes, e tenho mais do que uma opção para determinada posição, não estou a dar a mesma oportunidade para esse jogador. Se eu tiver três opções para um lugar, aquele que é a terceira opção não está efetivamente a ter uma oportunidade para lutar por um lugar, e eu acho que isso é muito importante. O nosso plantel é rico em jogadores que podem desempenhar mais do que uma função. Então se eu não tiver tantos jogadores e tiver um plantel equilibrado e competente em que todos sentem que têm oportunidade de jogar, a motivação vai ser maior, a exigência vai ter de ser automaticamente maior e vão ter de ser competitivos uns com os outros, porque vão ter de constantemente provar que estão bem, contribuir para a equipa, porque sabem que têm um concorrente fortíssimo, motivado e que está preparado. A riqueza é não ter muitos para sermos mais competitivos e fortes.
Cinco jogadores da Equipa B e Juniores (Pedro Álvaro, Nuno Tavares, David Tavares, Tiago Dantas e Nuno Santos) vão fazer a pré-temporada, ou pelo menos parte dela, com a equipa principal. Vamos ter algum deles em definitivo no plantel principal?
O plano é fazerem o primeiro treino [entre risos]. Pode acontecer. Primeiro é olhar sempre para aquilo que temos em casa, e foi nessa perspetiva que se fizeram os ajustes no mercado de inverno na última época, mas nunca deixar de parte quem contribuiu de forma grandiosa para o crescimento do Clube e para os títulos conquistados. Eu não coloco os miúdos da formação a uma distância muito grande dos mais velhos, mas também não me esqueço dos mais velhos e do contributo que foram dando. Outro aspeto fundamental no sucesso é a forma como os jogadores da formação são recebidos no balneário do Benfica, quase como um deles, porque ao longo dos anos têm treinado regularmente com a equipa principal. Depois vai depender daquilo que será o rendimento destes cinco atletas. É um caso diferente daquilo que foi o Gedson, o João Félix, o Ferro, o Florentino, o Jota e também o Ivan [Zlobin]. Todos eles chegaram à equipa A depois da afirmação na equipa B do Benfica, ou seja, eram regularmente titulares, e curiosamente nenhum destes [os cinco] tem isso. Depende do rendimento, mas eventualmente vão ter de passar por aquilo que estes jogadores passaram, ou seja, serem regularmente titulares na equipa B.
"O mais importante é ter os grandes princípios bem definidos"
Qual é a perspetiva do treinador que pode perder um jogador tão influente como João Félix?
Aquilo que eu sinto, e que eu via há seis semanas, é isto: por um lado, a equipa poder contar com o contributo do João era a nossa ideia. Depois, principalmente pelos adeptos, acho que o João poderia ser a grande referência que tem faltado ao Benfica, principalmente por ser português, por aquilo que representa, porque é um miúdo que veio da formação. Muitos comparam-no ao Rui Costa, apesar de o Rui dizer que o João tem pouco a ver com ele, mas é perceber isto: o Rui já não joga há dez anos e ainda estamos à procura do substituto dele. O João poderia ser a grande referência que a Família Benfiquista necessita e acarinha, porque foi um facto durante estes cinco meses. Gostava que o João vivesse isso, que saísse de Portugal e do Clube com uma passagem maior daquilo que foram apenas estes cinco meses. Se sair, vai como grande ídolo, mas gostava que saísse com mais algum tempo de casa para confirmar ainda mais aquilo que foram estes cinco meses. O Benfica pretende fazer também uma campanha internacional e poderia ser muito bom para o João. A acontecer, por um lado lamento que ele não tenha a oportunidade de viver este carinho, pelo menos mais um ano, que a Família Benfiquista lhe transmitiu durante este tempo, de sair daqui como verdadeiro ídolo do Benfica, mas, por outro lado, saber que é um jovem talento, convicto das suas ideias, pensa pela sua cabeça, e, se decidiu dar outro rumo à sua vida, certamente fará uma grande carreira.
"A riqueza é não ter muitos jogadores para sermos mais competitivos e fortes"
O plantel continuará forte e equilibrado?
Tem de ser. Quando eu cheguei ao Benfica aprendi uma frase dos mais velhos, do Jaime Graça, do Zé Henrique, do Nené, do Bastos Lopes, ex-jogadores que diziam: "Só o Eusébio é que fazia falta e só ele é que tem uma estátua". Por isso, o Benfica ao longo das épocas tem tido sempre equipas fortes. Essa é a nossa motivação e é para isso que estamos a trabalhar, para apresentar um plantel fortíssimo na próxima época.
O que estes novos jogadores podem trazer à equipa?
O Caio [Lucas] já estava contratado quando eu subi à equipa A, mas o mais importante é verificar que são jogadores de qualidade e agora é perceber, diariamente, qual o contributo que eles podem dar à equipa, porque são estas coisas que podem transformar as dinâmicas, é o contributo deles.
Depois da Reconquista, sente mais pressão?
A pressão que eu coloco em mim próprio é maior do que tudo. A mensagem inicial que eu vou passar aos jogadores vai nesse sentido. É de colocar enorme pressão em mim e no meu trabalho. Na época passada cheguei numa determinada altura em que as coisas estavam difíceis, perdidas e eu coloquei em mim a pressão, disse que não podíamos perder o Campeonato Nacional duas vezes. A pressão que eu coloco em mim, no meu trabalho, na minha equipa técnica, nos jogadores e em quem trabalha à minha volta é de tal forma enorme que aquela que vem de fora não atrapalha nada.
"Em princípio o 4x4x2 será a base, mas há 2/3 jogadores que nos podem fazer jogar diferente"
Vai estrear-se na Liga dos Campeões. O que será, para si, uma boa Champions do Benfica na próxima época?
Vou-me estrear na bancada [devido à expulsão no último jogo europeu com o Eintracht Frankfurt]. Será uma estreia diferente. Temos a noção de que necessitamos de fazer uma boa campanha para passarmos à fase seguinte, esse tem de ser o nosso grande objetivo. Essa é a história do Benfica, nós temos de entrar determinados nas nossas competições e é para isso que estamos a construir um plantel forte. Essa tem de ser a nossa motivação. As pessoas às vezes entendem o dia a dia, o jogo a jogo, o treino a treino como se fosse uma frase feita ou uma frase muito simples para o treinador do Benfica usar. Aqui, as coisas mudam tão rápido e o nosso trabalho é tanto de analisar e verificar aquilo que vai acontecendo no dia a dia que não há tempo para pensar mais à frente.
As Taças nacionais e a Liga Europa ficaram-lhe atravessadas na garganta?
Claro, e falámos sobre isso na última entrevista para fechar a época, mas houve pessoas que entenderam ao contrário. Quando eu disse que a equipa jogava de travão de mão, foi o que eu senti, que quando tinha o resultado favorável não fazia com as coisas acontecerem, e no Campeonato era diferente, começávamos os jogos zero a zero, tínhamos de ir à procura do nosso resultado, e íamos. Nos jogos da Taça e da Liga Europa tínhamos o resultado do nosso lado, a nossa intenção e estratégia não era esperar por nada, mas entrávamos em campo com travão de mão e isso é uma coisa que nós temos de trabalhar. Uma coisa é controlar o jogo, com bola ou sem bola, outra é esperar que as coisas aconteçam, e quando sofremos um golo é que damos dois ou três passos em frente para ir ao encontro do resultado. É essa mentalidade que eu não quero que a equipa tenha.
"O nosso plantel é rico em jogadores que podem fazer mais do que uma função"
Em relação ao Campeonato, o Benfica parte na pole position? Ou partem todos do zero?
Quem parte à frente são Benfica, FC Porto, Sporting e SC Braga. Estas equipas partem claramente à frente por aquilo que é a construção dos seus plantéis, pela qualidade dos seus treinadores e pelo futebol que evidenciaram na última época. Vamos ter também o Vitória de Guimarães fortíssimo, mais uma ou outra equipa que pode fazer surpresa, mas estas cinco/seis equipas mais fortes do Campeonato partem à frente. Temos de provar em campo o nosso valor e a nossa ambição de voltar a vencer.
O primeiro grande objetivo é a Supertaça a 4 de agosto. Que Benfica conta ter nesse jogo?
Um Benfica o mais próximo possível daquele que terminou a época. O grande objetivo é desde o primeiro dia preparar a equipa para competir e irmos analisando consoante aquilo que forem os nossos jogos de pré-época, para nos apresentarmos no dia 4 de agosto o mais próximo possível daquilo que foi o Benfica da última época.
Como mensagem final, o que promete aos Benfiquistas?
Prometo ser o mesmo treinador, uma pessoa que vive o dia a dia, não há outra hipótese. Há sete/oito anos eu era treinador de Juvenis do Benfica e fui bater à porta do gabinete do Presidente pedindo-lhe para sair. Eu ia começar o meu quarto ano como treinador de Juvenis e, quando estamos a fazer um percurso, na nossa cabeça está um determinado plano, pelo menos a médio prazo. Surgiu-me a oportunidade de ir para o Dubai. Eu tinha um caminho idealizado a médio prazo (a quatro, cinco, seis anos) e de repente estava quase do outro lado do mundo a treinar a equipa de juniores... Decidi que tinha de parar de sonhar e dar um passo de cada vez, viver um dia de cada vez. Faço um ano nos juniores, no ano seguinte sou promovido à equipa B, o Carlos Carvalhal é convidado para ser o coordenador da academia, há o convite para integrar a sua equipa técnica, vamos para Inglaterra, fazemos Championship, Premier League, aparece o convite para voltar a Portugal, o qual aceitei para treinar a equipa B do Benfica e estar perto da minha família, e cinco meses depois estou na equipa A e acabo como Campeão Nacional. Quem do outro lado não entender que a maior ambição é nós, no dia a dia, darmos o melhor contributo para que o trabalho seja bem feito é porque nunca passou por este tipo de vivências. É viver o dia de forma intensa, contribuir de forma intensa e preparar o dia seguinte, porque estar a fazer projeções a longo prazo já não as consigo fazer. É viver o dia, trabalhar da melhor forma no dia a dia para que as coisas tenham lógica, progressão e continuidade.
Texto: Diogo Nascimento
Fotos: Isabel Cutileiro / SL Benfica