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ECO Benfica

26 fevereiro 2023, 00h00

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Dia Mundial da Vida Selvagem

Criado pela ONU em 2013, o Dia Mundial da Vida Selvagem tem como objetivo "celebrar e aumentar a consciencialização sobre os animais e plantas selvagens do mundo".

A Biodiversidade e a Vida Selvagem possuem um valor intrínseco para o equilíbrio ecológico do planeta, garantido três serviços de ecossistemas essenciais: polinização, ciclo do azoto e controlo de pragas. São ainda imprescindíveis para o bem-estar humano, fornecendo alimento, medicamentos, vestuário, entre outros benefícios, como a promoção do desenvolvimento socioeconómico através do turismo.

A perda de biodiversidade tem vindo a aumentar devido à fragmentação de habitats provocados pela desflorestação, urbanização e agricultura. O prolongamento destes fenómenos levará à extinção de inúmeras espécies, com impactos irreversíveis em todos os níveis tróficos e funções ecológicos. Nesse sentido, foi alcançado em dezembro de 2022, um Acordo histórico na COP15 sobre a Biodiversidade em Montreal (Canadá), onde foram estabelecidos quatro objetivos globais, composto por um total de 23 metas, que visam travar a perda da biodiversidade à escala global até 2030.

O tema deste ano são as "Parcerias para a Conservação da Vida Selvagem", desde a escala intergovernamental até à escala local, e que se desdobra em dois subtemas:

  • Vida Marinha e Oceanos – Os oceanos são um dos principais sumidouros de carbono, muito graças às formas de vida fotossintéticas que abundam no seu fundo, pelo que o impacto da sua conservação é urgente;
  • Negócios e Finanças – A conservação e preservação da biodiversidade necessitam de ser financiadas, algo que durante anos foi considerado insustentável, mas que foi um dos temas centrais da COP15 de Montreal. Este financiamento depende de parcerias bem-sucedidas entre governos, sociedade civil e empresas, sendo fundamental para conseguir reverter a perda de biodiversidade.

Em 2023, precisamente no dia 3 de março, também se celebra o 50.º aniversário da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção). O objetivo primordial desta Convenção é assegurar que o comércio de animais e plantas não põe em risco a sua sobrevivência no estado selvagem. O tema "Parcerias para a Conservação da Vida Selvagem" proporcionará a oportunidade de destacar a ponte que a CITES tem sido para formar essas parcerias, dando uma contribuição significativa para a sustentabilidade, a vida selvagem e a conservação da biodiversidade, tanto a nível nacional como local.

A constituição de parques e reservas de vida selvagem e o restauro de ecossistemas através da reabilitação de paisagens degradadas podem (re)fornecer habitat para a vida selvagem. Envolver a população local em atividades de conservação pode ajudar a aumentar o apoio à conservação e garantir o uso a longo prazo dos recursos naturais. Um notável exemplo disso é a história incrível do indiano Jadav Payeng, que durante mais de 30 anos plantou uma floresta de 550 hectares, área equivalente a 800 campos de futebol, um território maior que o Central Park de Nova Iorque.

Nascido em Majuli, a maior ilha fluvial do mundo situada na região de Assam, no nordeste da Índia, Payeng assistiu durante a infância aos efeitos das cheias e consequente erosão do solo engolirem cerca de 70% da sua ilha natal. O ponto de viragem da sua vida deu-se quando tinha 16 anos, em 1979, ao deparar-se com um banco de areia arrastado pelas cheias composto por centenas de cobras mortas.

"As cobras morreram no calor, sem nenhuma cobertura de árvore. Sentei-me e chorei sobre as suas formas sem vida. Foi uma carnificina. Alertei o departamento florestal e perguntei se eles poderiam cultivar árvores lá. Eles disseram que nada cresceria ali. Em vez disso, pediram-me para tentar cultivar bambu. Foi doloroso, mas eu fiz. Não havia ninguém para me ajudar. Ninguém estava interessado" afirmou Payeng em entrevista à revista Treehugger.

Apelidado de "louco", Payeng foi o único habitante que permaneceu no local, considerado um caso perdido pelo governo indiano; começou a espalhar sementes de diversas espécies pelo terreno e a cavar buracos profundos para que as jovens mudas pudessem estender as suas raízes. Dotado de uma profunda compreensão do equilíbrio ecológico, transplantou formigas para os locais de forma a restaurar a harmonia natural do ecossistema. A área reflorestada, conhecida como floresta Molai, tornou-se o refúgio de uma incrível biodiversidade de flora e fauna como javalis, veados, répteis e diversas aves, até tigres-de-bengala e rinocerontes, sendo ainda a área migratória de mais de 100 elefantes. A história de Payeng está relatada no documentário 'Forest Man' que chegou a ser premiado no Festival de Cannes em 2014 e que pode ser visto aqui.

Para evitar a interferência humana na região, manteve segredo durante anos, até que um fotojornalista se apercebeu da presença das árvores então desconhecidas. Mesmo tendo passado a contar com o apoio dos serviços florestais, Payeng continua a ter várias ideias sobre como salvar Majuli, defendendo que a plantação de coqueiros pode ser a chave para controlar o solo erosivo da ilha, devido ao caule destas árvores crescer em linha reta. Além disso, os cocos poderiam ser vendidos sem necessidade de "destruir as árvores apenas para ter proveito económico", algo que, para Payeng, representa hoje a maior ameaça à sua ilha.

Apesar do reconhecimento internacional, Payeng continua a residir numa pequena casa em Majuli, onde cultiva para subsistência; anda descalço para manter a conexão com a natureza e orgulha-se do legado que deixou para o mundo: pequenos gestos podem fazer uma grande diferença.

O ECO Benfica convida-o a seguir o exemplo de Jadav Payeng e a celebrar a importância da Vida Selvagem, na primeira data comemorativa de um mês em que são várias as datas e iniciativas de celebrar o Ambiente e a Sustentabilidade!

Fotos: SL Benfica
Última atualização: 21 de março de 2024