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Futebol
10 abril 2025, 19h04
Tiago Gouveia
Ultrapassados sete meses de trabalho árduo, ao longo dos quais a sua determinação foi diariamente colocada à prova, Tiago Gouveia iniciou a sua viagem pela rua da memória com a resposta do corpo e da mente no primeiro teste após o interregno competitivo: o duelo do passado dia 31 de março de 2025 frente ao Académico de Viseu, para a 27.ª jornada da Liga 2. Um primeiro impacto de 45 minutos nos quais sentiu que as suas características se tinham fortalecido.
"Acho que consigo dizer que mentalmente cheguei mais forte, fisicamente e tecnicamente vou estar muito melhor, vou ser muito melhor do que era antes", afirmou o camisola 47 das águias, que somou mais 60 minutos pelos bês, diante do Alverca, e 25 minutos já pela equipa principal, no 0-5 diante do Tirsense, para a 1.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal.
Perspetivando a reta final da temporada, Tiago Gouveia assegurou estar "fresco fisicamente e psicologicamente" para ajudar um grupo que "nunca o deixou cair", e partilhou uma mensagem de otimismo para os desafios que se avizinham.
"Podemos esperar o que fizemos até agora, tentar ganhar os jogos todos, de não desistir até ao final de nenhum jogo, independentemente se o jogo está a correr bem ou está a correr menos bem. Isto, esperar isto da equipa. De mim, esperar um Tiago muito motivado. Um Tiago fresco fisicamente e psicologicamente. E um Tiago feliz, entusiasmado, com uma vontade enorme de conseguir ajudar e de ser feliz", completou.
Vamos olhar para esse jogo do regresso após lesão: como é que se sentiu? Como foi estar no balneário, entrar em campo, o apito do árbitro...
Primeiro que tudo, agradeço esta oportunidade de falar sobre o que foram estes sete meses. Foi um dia estranho, um dia diferente, porque passados sete meses muita coisa mudou. A minha rotina durante esses sete meses era uma rotina completamente diferente e, nesse dia, foi um regresso à rotina de há muito tempo. A rotina de acordar, aquela energia, aquela ânsia de me levantar para vir para cá. Tomar o pequeno-almoço em casa em dia de jogo, a concentração, o almoço… Ao longo do tempo, à medida que nos fomos aproximando do jogo, fui ficando um bocadinho de nada mais tenso, digamos assim. A ativação, antes do jogo, também assim com o coração a bater um bocado rápido, a querer que aquilo começasse… Depois do apito, acho que caí um pouco na realidade de que acabou aquele tempo de sofrimento, acabou o tempo de incerteza, e foi uma felicidade muito grande. Foram só 45 minutos, mas foram 45 minutos que me souberam por 10 jogos. Foi uma sensação muito boa e muito positiva.
E o corpo? Como é que se sentiu?
[Risos] O corpo sentiu-se bem, eu já esperava isso também e preparei-me para isto, não é? Preparei-me para que o meu corpo, quando voltasse aos relvados, reagisse bem, e foi isso que aconteceu. Foi um jogo exigente. Fisicamente senti-me bem. Não sairia daquele jogo da mesma maneira se não tivéssemos ganho. Independentemente de eu ir para lá para ganhar forma, para ganhar minutos, se não ganhássemos o jogo, não iria sair feliz. Conseguimos ganhar o jogo, não sofrer golos. Porque joguei a lateral-direito, a defesa, ou seja, a responsabilidade aumentou a nível defensivo, por isso, fiquei muito feliz. Joguei 45 minutos, fisicamente senti-me bem, ganhámos o jogo, não sofremos golos, por isso, acho que foi um jogo espetacular.
Já falámos da componente física, o Tiago Gouveia também já falou ao de leve da parte mental. Quando começa o jogo, é concentração total? Como funciona também a mente?
Aqueles primeiros minutos podem ser um bocadinho receosos, no sentido do contacto. A nível físico como é que vou reagir, o primeiro sprint… É sempre aquela coisa que nós nunca sabemos como é que vai ser. Mas correu bem, logo o primeiro lance do jogo foi um lance de duelo… Em termos do que é a exigência para o joelho foi bom porque fui ao duelo, não tive medo de ir ao duelo, caí e apoiei-me no braço, ou seja, o que ia ser posto à prova naquele jogo, naquele primeiro lance foi posto à prova. Correu bem e deu-me ainda mais vontade para continuar, e foi isso.
Nestes sete meses, quais foram as maiores incertezas? O que foi sentindo ao longo deste processo de recuperação? Os maiores obstáculos…
A maior incerteza de todas era a nível físico e técnico, como é que eu iria voltar. Não era a incerteza de: "Ai, o meu joelho vai estar bom? Não vai? O meu ombro vai estar bom? Não vai?" Não! A maior incerteza era a nível técnico e físico, como é que eu ia voltar, porque aquele receio do regresso, das rotações, ao nível do que é estar em campo, as rotações, os sprints, tinha sempre alguma incerteza em relação a isso. Dissiparam-se um pouco depois à medida que fui voltando aos treinos, e agora cada vez mais se vai dissipando mais porque vou treinando mais, vou sendo posto à prova mais vezes em treino, e esse é que é o meu maior objetivo. É conseguir voltar aos níveis técnicos e físicos com que eu estava antes da lesão, e eu acredito muito que isso vai acontecer num futuro muito, muito próximo.
Nestes sete meses, quem é que lhe foi dando a mão? Quem é que o foi acompanhando? Porque há o outro lado, não é?
Fora daqui, a minha namorada, que foi fantástica neste tempo todo, foi realmente um dos meus maiores suportes. A minha mãe, o meu pai, os meus irmãos… O meu irmão que está na Holanda [Países Baixos], perguntava muitas vezes como é que eu me sentia, sempre com um papel muito ativo. O meu irmão que está cá também, naturalmente… A minha avó [risos] sempre a mandar mensagens, a perguntar como é que eu estava. Mesmo se fosse preciso, em duas horas no mesmo dia, mandava-me uma mensagem a perguntar como é que eu estava… Isto fora do Clube… Dentro do Clube a equipa toda, o grupo todo não me deixou cair. O grupo todo não me deixou cair e eu agradeço-lhes muito. Fizeram com que eu conseguisse ter um sorriso todos os dias, ver o António [Silva] a chegar de manhã e começava a rir para mim e eu começava a rir para ele… O Samu [Samuel Soares] igual, o Tomás [Araújo] a mesma coisa, o Barreiro, sei lá… o André Gomes… Foram sete meses bastante difíceis, mas foram sete meses que, vá, passaram a voar, se podemos dizer assim. Ainda ontem estava a lesionar-me no jogo com o [CF] Estrela [24/08/2024 SL Benfica 1-0 CF Estrela] e quando joguei com o [Académico de] Viseu [31/03/2025, SL Benfica B 1-0 Académico de Viseu] já estava de volta. Ou seja, parece que demorou muito tempo, mas parece que foi rápido porque eu tinha pessoas à minha volta que não me deixaram desanimar, ter uma postura negativa e uma energia negativa à minha volta.
Não sei se a palavra "desistir" é muito forte, mas às vezes surge esse pensamento negativo… Sempre uma luta, uma batalha, sempre no departamento médico. Como é também vir para o Benfica Campus, quando vem no carro… Como se processa tudo isso a nível mental?
Desistir, desistir, nunca me passou pela cabeça, nunca! Mas como eu falei no início, eram as tais incertezas, as incertezas de como é que eu iria voltar. Isso foi o que mais me tomou conta da cabeça e do pensamento, OK? Os dias mais difíceis para mim eram os dias de jogo da equipa, e os dias mais fáceis, para mim, eram os dias de treino, porque eu tinha o grupo todo. Uma das coisas que me agarraram aqui e me seguraram foi o facto de eu também ter esta personalidade de ser brincalhão, e conseguia abstrair-me um pouco fazendo isso. Por isso, os dias de jogo acho que eram os dias em que eu vinha mais desmotivado, porque de manhã estava sozinho, praticamente. Depois à noite, estar de noite e a ver o jogo, custa sempre. Custa sempre estar a ver o jogo de fora. Portanto, eu acho que esses é que foram os meus maiores desafios. Durante este tempo, em vez de pensar "OK, ainda falta…", em vez de ser mais um dia de lesão, consegui ter o pensamento muitas vezes de menos um dia. Isso conseguiu também ajudar-me um pouco, porque ao longo do tempo eu fui fazendo mais coisas, tanto a nível da lesão do ombro como do joelho. A nível de fisioterapia, passado um mês, já era menos um mês que faltava para eu voltar. Ia fazendo mais coisas, mais exercícios, e isso dava-me energia, dava-me um oxigénio extra, e isso foi muito importante para mim. O facto de eu conseguir sempre ir fazendo mais coisas tanto no ginásio, na fisioterapia, era a isso que eu me agarrava, porque se eu me agarrasse aos "um mês, dois meses"… isso era completamente negativo.
Às vezes, com estas paragens mais longas, quando regressam, os jogadores dizem que voltaram mais fortes. Considera que é o seu caso? Há essa possibilidade? Pelo que passou em termos de crescimento.
A nível psicológico? Sim, claramente voltei mais forte, isso não tenho a mínima dúvida! A nível de jogo ainda não consigo dizer isso, mas sei, e tenho a certeza absoluta de que vou conseguir dizê-lo, não tenho a mínima dúvida. Por isso, sim. Acho que consigo dizer que mentalmente cheguei mais forte, fisicamente e tecnicamente vou estar muito melhor e vou ser muito melhor do que era antes.
Sente-se pronto para ajudar a equipa, para o Campeonato Nacional, para a Taça de Portugal? Como é que está a encarar também esse desafio?
Sim, sim, sem dúvida! Quando nós estamos num Clube assim, sabemos que a concorrência é grande. E a concorrência ao ser grande torna a tarefa, não digo mais difícil, mas digo mais desafiante. É com isso que eu estou, é com essa palavra que eu vou encarar este tempo que falta. Não um tempo difícil, mas um tempo desafiante e um tempo que, não tenho a mínima dúvida, vai ser bastante positivo para mim e para a equipa.
Em termos de características do Tiago Gouveia: fala-se muitas vezes na explosão, na intensidade... Essas características estão intactas?
Não tenho a mínima dúvida, estão bastante intactas e vão estar ainda mais intactas e mais consolidadas no futuro muito próximo.
Bruno Lage usa várias vezes as palavras "família", "tropa", "equipa", fala muito disso, e o Tiago Gouveia também já falou sobre o grupo. Sente-se também pronto para entrar nestas palavras, neste pensamento de Bruno Lage?
Durante o tempo todo que eu estive fora, com a minha forma de ser, acho que tentei ao máximo estar dentro do grupo. Sempre fui uma pessoa que quando as coisas não estavam bem, a correr bem, tentava puxar as pessoas para cima.
O que é que podemos esperar do Tiago Gouveia, da equipa do Benfica nesta reta final do Campeonato, da Taça de Portugal?
Podemos esperar o que fizemos até agora, tentar ganhar os jogos todos, de não desistir até ao final de nenhum jogo, independentemente se o jogo está a correr bem ou está a correr menos bem. Isto, esperar isto da equipa. De mim, esperar um Tiago muito motivado. Um Tiago fresco, fisicamente e psicologicamente. E um Tiago feliz, entusiasmado, com uma vontade enorme de conseguir ajudar e de ser feliz.
Que mensagem quer deixar diretamente aos Benfiquistas, que certamente o acarinharam ao longo destes sete meses?
Primeiro que tudo, agradecer o vosso apoio, o vosso suporte. Durante estes sete meses, fui recebendo muitas mensagens, mesmo na rua, muito preocupados e sempre a perguntar quando é que eu ia voltar, se estava melhor, etc. Primeiro que tudo agradecer o vosso apoio e o vosso carinho. E depois apelar ao apoio que têm dado até agora, mas apelar também ao sentido de responsabilidade, porque, acima de tudo, o vosso trabalho fora de campo é tão ou mais importante do que o nosso trabalho dentro de campo. Por isso, repito, apelar ao vosso amor, ao vosso coração, ao vosso apoio.