Futebol feminino

28 fevereiro 2025, 18h00

Laís Araújo

Laís Araújo

Laís Araújo, jogadora da equipa feminina de futebol do Benfica, tem a bondade estampada no rosto. Delineada pela humildade, a jogadora brasileira não ignora de onde veio e de como lhe custou a chegar a um clube que é sonho de milhares. Cresceu na pobreza, mas forjou-se na necessidade de fugir de uma vida de solavancos, aproveitando a oportunidade que o futebol lhe concedeu.

Mas Laís nunca esqueceu as origens e sente-as num abraço permanente às crianças que suspiram por uma oportunidade de criar, no futebol, um desfecho diferente para as suas vidas. A central brasileira da equipa feminina do Benfica criou uma fundação no Brasil e, com o auxílio da Fundação Benfica, tem conseguido ajudar o clube onde se iniciou, com equipamentos, bolas e outros utensílios desportivos que ajudam a crescer o desejo e o sonho.

Nesta semana, Laís Araújo foi a convidada do programa Protagonista, da BTV.

Laís Araújo

"Assim que cheguei a Portugal, percebi que o Benfica era a melhor equipa, que jogava com um andamento diferente das outras"

Laís Araújo

FUTEBOL COMO INSPIRAÇÃO

"O futebol acabou por definir a minha vida. Eu venho de uma família pobre, sem muitas posses, e de um ambiente de muita pobreza, onde o futebol, muitas vezes, é que tira os jovens de vidas mais complicadas. Eu não sei o que teria sido a minha vida sem ter tido a oportunidade de jogar futebol e de alguém ter acreditado em mim e nas minhas qualidades. O futebol foi muito inspirador para mim e, ainda hoje, é o que me permite ajudar a minha família. Sou uma pessoa respeitada, na minha cidade, as pessoas conhecem-me, porque jogo num clube que é mundialmente conhecido, e a minha carreira tem sido construída a pulso. Desde que comecei a jogar no Brasil, quando tive a oportunidade de jogar no futebol universitário, nos Estados Unidos. Têm sido experiências incríveis, como na Austrália, durante quatro meses, no Madrid [CFF] e depois no Famalicão. O futebol deu-me tudo."

PORTUGAL ABRIU AS PORTAS

"A vinda para Portugal acabou por mudar a minha carreira. Era um dos objetivos que eu tinha, porque se tem assistido a uma evolução tremenda do futebol feminino nos últimos anos. E a presença do Benfica na Liga dos Campeões tem ajudado a promover a imagem do futebol feminino em Portugal. Tinha muita curiosidade em jogar na Liga portuguesa e atuar numa equipa que me permitisse evoluir e destacar-me. E, claro, assim que cheguei a Portugal, percebi que o Benfica era a melhor equipa, que jogava com um andamento diferente das outras. E tive a felicidade de jogar dois anos excelentes no Famalicão, depois das minhas experiências na Austrália e em Madrid. Apanhei uma excelente estrutura, um clube que oferece boas condições às jogadoras e que nos permitiu construir uma boa equipa, e basta ver onde jogam várias das jogadoras que atuaram nessa equipa do Famalicão. Joguei como central, embora fosse média, e no início da minha carreira até joguei na frente. Mas, no Famalicão, desenvolvi algumas características que me têm ajudado bastante no Benfica e com a nossa treinadora, que gosta de jogadoras polivalentes."

O CHAMAMENTO DO BENFICA

"Todas as jogadoras querem jogar nos melhores clubes do mundo e nos melhores estádios. O Benfica tem isso tudo. É um dos maiores clubes do mundo e tem um estádio onde todas as jogadoras sonham jogar. Eu defrontei o Benfica várias vezes, e tenho de reconhecer que sentia esse desejo de jogar no Clube. Já conhecia a grandeza do Clube, mas estar lá dentro e jogar contra é outra sensação. Eu sentia a motivação da minha equipa, a minha e a das minhas colegas, quando defrontávamos a equipa que todas queriam derrotar. E, durante a semana, alimentávamos essa expectativa, mas depois chegava o jogo, e elas marcavam o primeiro, marcavam o segundo e marcavam o terceiro, e tínhamos de nos render à sua qualidade. Claro que tinha o sonho de jogar no Benfica, e acabou por acontecer, porque viram em mim capacidade para ajudar. Eu via os jogos do Benfica na Liga dos Campeões, mesmo quando jogava no Famalicão, e pensava que, um dia, eu também jogaria essa competição, se possível com o Benfica. Portanto, quando me ligaram, nem precisei de pensar muito, porque era o clube que eu queria, o convite com que sonhei."

Laís Araújo

"Quando me ligaram, nem precisei de pensar muito, porque era o clube que eu queria, o convite com que sonhei"

POLIVALÊNCIA É UM DESAFIO

"Foi no Famalicão que comecei a desenvolver mais essa capacidade, e, no Benfica, a polivalência é um desafio constante. Melhora-nos como jogadoras, e a nossa treinadora, a Filipa Patão, gosta muito de jogadoras assim, que façam várias posições. Desenvolvemos isso no treino, e acho que é algo que nos distingue, como equipa, porque torna as coisas mais imprevisíveis para os nossos adversários. Sinto-me melhor jogadora, hoje, do que era quando aqui cheguei, e o processo continua. Vou continuar a melhorar, a evoluir, e treinar com as melhores também ajuda bastante. Temos uma equipa com muita qualidade individual, mas, se vir, a nossa maior força é coletiva. Acho que a equipa tem crescido bastante, as jogadoras gostam do que nos é proposto pela treinadora, apesar de nos colocar desafios permanentes. Mas, no fim, somos melhores jogadoras, e isso faz com que sejamos melhor equipa."

NÃO HÁ PENTA COMO O PRIMEIRO

"Esta equipa do Benfica tem feito história, desde que começou a jogar. É incrível o que o Benfica conseguiu em tão pouco tempo. Assim que chegamos ao Clube, sentimos essa exigência de continuar a conquistar títulos. E, para nós, jogadoras, é especial saber que temos um lugar na história do Clube. Mas a história é algo que se constrói todos os dias. Podemos ser pentacampeãs, e isso é, também, algo que o Clube persegue há muito tempo no futebol. Podemos ser as primeiras a dar um pentacampeonato ao Benfica, no futebol. Mas não podemos parar por aí. Se ganharmos a Liga, faremos história, mas depois, no ano seguinte, há mais história para fazer, porque depois de um penta vem a hipótese do hexa. Não dá para parar de sonhar e conquistar. Mas, por agora, temos ainda o Campeonato para conquistar, jogos difíceis pela frente, e sabemos como a Liga portuguesa está cada vez mais difícil, porque as equipas estão a reforçar-se, estão a colocar mais dificuldades, e os jogos são muito competitivos."

MAIS UM DÉRBI

"Será mais um jogo na nossa caminhada, desta vez a eliminar. Aceito que se diga que é uma final antecipada da Taça de Portugal, porque estarão a defrontar-se as duas melhores equipas portuguesas. Então, podemos falar de uma final antecipada, mas nunca diminuindo o valor das outras equipas. Para já, é o Sporting o nosso adversário, respeitamos imenso o seu valor, tem uma grande equipa, com muitas jogadoras de qualidade, mas queremos ganhar. Neste ano, já nos derrotaram na Supertaça, mas agora queremos ganhar todas as competições que ainda restam, e a Taça de Portugal é uma delas. Será um jogo muito exigente, espero que seja bem disputado e que o Benfica ganhe. Depois desse jogo da Supertaça, ainda numa fase muito inicial da temporada, não voltámos a perder com elas, e assim queremos continuar. Com o apoio do nosso público, que faz uma diferença cada vez maior, com a nossa energia, a nossa experiência e a nossa qualidade, acho que vamos conseguir o nosso objetivo de passar a eliminatória e ficar mais perto do Jamor."

Laís Araújo

"Esta equipa do Benfica tem feito história, desde que começou a jogar. É incrível o que o Benfica conseguiu em tão pouco tempo"

SENSIBILIDADE SOCIAL

"Sei de onde venho, não esqueço as minhas origens e sei os problemas com que se debatem muitos meninos e meninas, no lugar onde nasci. As oportunidades não são muitas, e faço o que posso para contribuir para que possam fugir de uma vida de pobreza ou de crime. E tenho tido uma ajuda incrível da Fundação Benfica e das minhas colegas, levando camisolas, botas de futebol, bolas, para as meninas e para os meninos mais necessitados. Agora, há uma equipa de meninas também, e estou a ajudar, no que posso, através de uma fundação que criámos. E as minhas colegas, no Clube, têm sido incríveis. Neste ano, voltarei a levar, e acredito que a Fundação Benfica tem sido determinante para ajudar aquelas crianças. E quem sabe se não estará ali um futuro ou uma futura jogadora do Benfica? Porque o sonho dessas crianças é o mesmo que eu tive, de chegar a um clube com o tamanho do Benfica. E muitos deles já sonham com o Benfica, são benfiquistas e usam com orgulho a camisola do Clube."

Artigo publicado na edição de 28 de fevereiro do jornal O Benfica

Campanha 121 Anos Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 1 de março de 2025

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