Futebol

05 setembro 2024, 23h43

Bruno Lage com o Presidente Rui Costa

Bruno Lage com o Presidente Rui Costa no Benfica Campus

APRESENTAÇÃO

Convicto das suas capacidades e com uma "enorme ambição de vencer", Bruno Lage está de regresso ao Sport Lisboa e Benfica para comandar a equipa de futebol profissional. A mesma que, em 2018/19, com um futebol fantástico e galvanizador, conduziu ao 37.º Campeonato Nacional da história centenária do Clube. O Presidente Rui Costa explicou a convicção da "escolha fácil e rápida", nesta quinta-feira, 5 de setembro, no Benfica Campus.

Na conferência de Imprensa de apresentação de Bruno Lage, agendada para o final da tarde desta quinta-feira, 5 de setembro, no Benfica Campus, o Presidente do Sport Lisboa e Benfica começou por explicar os motivos e os critérios que sustentaram a tomada de decisão que materializa o regresso a casa de um homem que cresceu e viveu no Clube grande parte do seu percurso no futebol. "É um dos nossos", lembrou Rui Costa nas primeiras palavras proferidas: "Um treinador de sucesso que já conquistou títulos no Benfica."

"É com grande orgulho que apresento Bruno Lage. Uma escolha fácil e rápida da nossa parte, tratando-se do regresso a casa de um dos nossos, que tem o perfil e a qualidade que entendemos necessária neste momento para dirigir a equipa principal do Benfica. Mais do que conhecedor do Clube pelos anos em que representou esta casa, um treinador de sucesso que já conquistou títulos no Benfica, na equipa principal, num período ainda mais complicado do que aquele que vivemos hoje. Dentro de todas estas circunstâncias, considerámos, e de uma forma muito rápida, que o Bruno [Lage] reunia todas as condições e teria o nosso apoio para dirigir a equipa principal do Benfica", afirmou.

Bruno Lage

Rui Costa, sabendo que cada sócio e adepto do Clube tem "as suas escolhas e preferências", vincou a certeza de que "a partir deste momento o Bruno [Lage] terá o apoio e o respeito de todos os Benfiquistas".

E prosseguiu dirigindo-se ao técnico setubalense de 48 anos: "É o treinador de todos os Benfiquistas. Não tenho a menor dúvida de que, Bruno, além das tuas qualidades enquanto treinador, terás também aquilo que todos os Benfiquistas querem ver. Tenho a certeza absoluta que viverás cada dia, cada treino e cada jogo neste clube com o sentimento com que sempre o representaste: o sentimento de cada Benfiquista. Por todas estas razões, desde a parte técnica à parte sentimental, e ao facto de estarmos a fazer voltar um treinador que já teve sucesso na casa, que é da nossa casa, não tenho a menor dúvida que será o treinador indicado para este momento."

Presidente Rui Costa e Bruno Lage

O Presidente deixou igualmente um desejo de sucesso ao novo timoneiro técnico das águias. "Bruno [Lage], que tenhas o maior sucesso neste clube, como já o tiveste, que voltes a repetir aquilo que já conseguiste fazer no Clube e que no final do ano possamos estar a refazer esta foto [Bruno Lage a erguer o troféu de Campeão Nacional] com a conquista do 39, que é esse o desejo de todos os Benfiquistas. Sei que vais lutar por isso como cada um de nós. Bem-vindo a casa, uma casa que é tua. Ainda há pouco, quando nos encontrámos ali fora, parecia que era um dia normal para nós face aos anos que estiveste aqui dentro. Que tenhas o maior sucesso, que repitas tudo aquilo que já conseguiste neste clube. Bem-vindo à tua casa, bem-vindo de volta", rematou Rui Costa.

O BEIJO NO EMBLEMA DO MANTO SAGRADO

Depois da intervenção do Presidente, o treinador Bruno Lage – que assinou contrato por duas épocas (até 2026) e, no final da apresentação, beijou o emblema do Manto Sagrado que recebeu das mãos de Rui Costa – também prestou uma declaração, antes de responder às perguntas dos jornalistas.

"Boa tarde! Vou começar por onde o Presidente terminou. E dizer já a todos os Benfiquistas isso mesmo, é que não haja dúvida nenhuma do trabalho que nós vamos fazer, da dedicação com que venho e da motivação com que venho, e da energia de voltar a fazer um bom trabalho como sempre fiz, desde as Escolas, desde os Sub-11, até à equipa profissional", começou por referir.

"Ninguém nesta sala sabe aquilo que eu vou partilhar convosco, porque quis o destino que assim fosse, que eu regressasse hoje a esta casa e que no dia de amanhã [sexta-feira, 6 de setembro], no primeiro treino, eu fizesse 20 anos que entrei nesta casa pela primeira vez para treinar meninos de 10 anos. Por isso, é com enorme orgulho que eu aqui estou, e de estar a ver jornalistas que me viram crescer quando eu treinava esses meninos. Vocês vão-me desculpar, e antes de começar a conferência de Imprensa, vou até vós e vou cumprimentar-vos", finalizou, deslocando-se até cada um dos jornalistas presentes na sala de Imprensa do Benfica Campus para os saudar pessoalmente.

Bruno Lage

Permita-me que coloquemos a bola a rolar imediatamente. Que futebol quer que a sua equipa pratique?

Eu quero o futebol que os adeptos gostam de ver, e que já viram durante largos anos. Não foi só comigo, mas, durante largos anos, viram o Benfica jogar. Um futebol ofensivo, um futebol dinâmico, um futebol divertido e, fundamentalmente, um futebol que puxe pela bancada. É isso que nós sempre queremos. Lembro-me e recordo sempre – porque conversámos várias vezes sobre isso – aquilo que foi o meu primeiro jogo. O meu primeiro jogo foi muito isso, foi a paixão que se viveu e a envolvência que se viveu, entre aquilo que era a paixão dos adeptos e o apoio que deu aos jogadores e o retorno que os jogadores deram nesse dia. Estávamos a perder o jogo [Benfica-Rio Ave da 16.ª jornada da Liga 2018/19], e foi por essa união entre adeptos e jogadores que se deu a tal Reconquista. E é por aí que temos de começar. Futebol atrativo, futebol dinâmico, um futebol ofensivo, um futebol com golos, e voltar a reconquistar os nossos adeptos.

Quatro anos depois: que treinador é hoje? O que podemos esperar? Que mensagem pode deixar aos adeptos?

O nosso caminho é de aprendizagem. Por isso, todas as últimas experiências que tive foram sempre de aprendizagem. É nesse sentido que levo a minha vida, porque só assim, no sentido de cada dia sermos melhores, é que um treinador como eu, que começa nesta casa a treinar meninos de 10 anos, pode chegar 20 anos depois novamente a esta posição. É sempre alguém com uma energia muito positiva, e com uma vontade enorme de fazer um bom trabalho. Essa é a minha motivação e a minha energia. Esse vai ser o meu primeiro passo: tirar o maior partido de toda a gente, da estrutura, como sempre o fiz, e também pela qualidade que temos no nosso plantel. Aos adeptos... há pouco tempo tive a oportunidade de falar com colegas vossos [jornalistas] sobre aquilo que tinha sido a minha passagem pelo Benfica e eu fiquei com essa sensação, que a minha história no Benfica não podia terminar daquela maneira. Quis o destino que ao dia de hoje, na situação em que o Benfica vive, eu pudesse estar disponível para regressar a esta casa. Aquilo que sinto é uma vontade enorme por trazer de novo o sentimento de ser Benfiquista. Porque é isso que sinto quando estou a falar com as pessoas. Que as pessoas não conseguem descrever o que é ser Benfica, mas as pessoas conseguem sentir aquilo que é ser Benfica. É quase como o sistema nervoso que percorre todas as partes do corpo e que está sempre presente. É essa chama que temos de trazer imediatamente para cá para dar muita energia aos nossos jogadores. A mensagem que eu quero para os adeptos é: temos de ser, independentemente do momento, pelo Benfica, temos de nos unir para voltarmos a fazer um trabalho diário, de muito sacrifício; com a união de todos podemos chegar ao fim com sucesso.

Bruno Lage

Pode prometer aos adeptos que a equipa vai jogar o dobro do que tem apresentado neste momento? Há desconfiança dos adeptos em relação a si, não é um nome consensual. Gostava de usar a mesma expressão que Rúben Amorim utilizou quando chegou ao Sporting? "E se corre bem?"

Olhe, você já me conhece, sou muito genuíno, temos de olhar para pessoas de sucesso e aprender com elas. Mas eu gosto de olhar para o que tenho vindo sempre a fazer e partir de mim. Por isso, não vou repetir nem o dobro, nem o "se acontece". Vou dizer é aquilo que sentia desde a primeira hora, e que sinto quando o Presidente falou comigo: uma vontade enorme de me trazer, e eu com uma vontade enorme de vir trabalhar para a minha casa. Sinto-me em casa, estou em casa e, da forma como iniciei, não tenham dúvidas nenhumas que aquilo que eu vou fazer... e a dedicação que eu coloco no meu trabalho e o meu profissionalismo é para fazer crescer a equipa de acordo com aquilo que os adeptos gostam de ver a equipa jogar.

Há um ano falávamos, antes mesmo de assumir o comando do Botafogo, e dizia que o projeto ideal para a sua carreira era algo que tivesse um caminho traçado, um clube que tivesse objetivos bem traçados, não só a curto prazo, mas para o futuro. Nas conversas com o Presidente, tem objetivos mínimos definidos? Quais são para esta temporada, e para o futuro? Tendo em conta o que mudou ao longo dos últimos anos e na experiência que foi ganhando, o Bruno Lage de hoje fazia alguma coisa diferente para tentar mudar o desfecho da última passagem pelo Benfica?

A conversa com o Presidente foi sempre muito clara, muito objetiva, e há coisas que estão inerentes à grandeza do Benfica. Nós temos de olhar para aquilo que é o nosso caminho, que temos de fazer nos próximos nove meses. O primeiro passo é já o treino de amanhã [sexta-feira, 6 de setembro], e, depois, o jogo que temos de preparar, com o Santa Clara [5.ª jornada da Liga Betclic]. Acho que está mais do que evidente aquilo que são os nossos objetivos. O passado recente tem-nos dito que a desvantagem pontual que temos para o 1.º [lugar] não é significativa e que é possível recuperar. Para além do Campeonato, temos várias competições, em que temos claros objetivos, e muito bem definidos, em função daquilo que é a grandeza do Benfica. Segundo ponto: eu não penso muito no passado, eu não olho muito para trás. Hoje, o Bruno Lage é diferente. O Presidente falou da maneira como eu saí daqui, do último dia em que eu saí daqui. Três anos e meio depois, chego, e já chego com cabelos brancos. E estes cabelos brancos ajudam-me a ver as coisas à distância, com outra clareza e até mesmo de uma forma emocional completamente diferente. Se eu, a pessoa, o homem e o treinador que sou hoje, olhasse para trás, e não entendesse que em determinado momento podia ter feito as coisas de outra maneira, o meu caminho de aprendizagem não tinha sido esse. Mas não é isso que se faz. É naquele momento, e é naquela situação. Por isso, as ações ficam, e nós temos de olhar para elas, aprender e fazer um caminho de sucesso.

Bruno Lage

Gostava de falar de outro Bruno Lage e de uma das frases que marcaram a outra vinda para o Benfica. Quando isto tudo acabar, quando voltar para casa, o Jaime [filho de Bruno Lage] ainda vai estar a ver o Canal Panda, ou as mensagens já não são as dos Super Wings?

Já nem posso dizer o que eles [crianças] com nove anos veem... O mais importante sobre a minha família, hoje já são dois, o Jaime e o Manuel, é que... Vocês [jornalistas] meteram-me a falar dos meus filhos e eu vou sempre ao tapete [pausa para beber água]. A coisa mais importante na minha vida são os meus filhos, e vocês [jornalistas] falam-me neles... Eu saí de casa, dei-lhes informação, o pequenino [Manuel] ainda não sabe o que é o Benfica. Perguntou-me até se podia vir para o Benfica. Comecei a vestir o fato e a gravata, e ele também anda no colégio de fato e gravata, também se começou a vestir de fato e gravata porque pensava que vinha para alguma festa. O grande [Jaime] já sabe, e o que eu lhe disse é que eles tenham orgulho no pai. É isso que eu quero, que ele, que é um grande Benfiquista, como a mãe, que é uma grande Benfiquista, e como os Benfiquistas, que tenham orgulho em mim e no trabalho que vou fazer aqui. Quem regressa é alguém com vontade de vencer. Diga-me um treinador que não ganhou e não perdeu nos últimos 20 anos, quer do Benfica, do FC Porto ou do Sporting? Se calhar muitos perderam e não ganharam. Outros ganharam e perderam. Nós, se até formos à média de anos, de títulos conquistados e anos em que não se conquistou títulos, se calhar a média do Bruno Lage é muito semelhante à dos últimos 20 anos dos vários treinadores. Por isso, o mais importante de olhar para o passado é ver que ali [a apontar para a imagem em que levanta o troféu de Campeão Nacional] está o 37, que me enche de orgulho, que está no Museu, que o meu filho, há de querer um dia visitar, mas eu nunca quis interferir com a vida diária do Benfica e por isso é que nunca o levei ao Museu Benfica – Cosme Damião. Mas aquilo que é fundamental é nós olharmos para o futuro e olharmos para aquilo que podemos fazer para conquistar mais um título ou mais títulos para este grande clube.

O objetivo que lhe foi colocado pela estrutura do Benfica é ser campeão? Pode prometer aos adeptos que vai tentar recuperar esta desvantagem?

É isso que eu prometo, é ganhar e jogar bem e muito trabalho. É isso que eu prometo e é isso que nós vamos fazer. Desculpe interrompê-lo, é para você sentir a energia com que eu chego.

Bruno Lage

Que apreciação faz do plantel, já que não foi o Bruno Lage que o montou? Dá-lhe garantias?

Se você for recordar as várias conferências, a minha ideia de plantel era sempre um plantel curto, competitivo e equilibrado. Curto no sentido de ter dois atletas por posição, equilibrado, que me desse hipótese de poder jogar de várias maneiras, ou seja, olhar para o plantel e, quer antes dos jogos, ou durante o jogo, poder alterar o sistema, ou a própria dinâmica em função das caraterísticas do plantel e ser competitivo internamente e competitivo fora. Por isso, quando olho para este plantel vejo o plantel construído dessa maneira. Jogadores competitivos, um plantel curto que me permita trabalhar e um plantel competitivo internamente, que é a maior garantia de evolução e de trabalho diário dos nossos atletas, é eles sentirem que não há lugares garantidos, que eu tenho de trabalhar diariamente para ter o meu espaço, e [um plantel] que me permita ter soluções em função do calendário, de três em três dias estarmos a jogar. Olhando para isso, acho que se fez um excelente trabalho na construção do plantel.

Queria que nos revelasse, se puder, quando recebeu o convite para regressar e se demorou muito tempo a dar uma resposta. Tendo em conta o momento de instabilidade do Clube, sente que tem o destino de Rui Costa nas mãos?

Quando e como, não é importante. Posso dizer-lhe que as coisas não aconteceram de imediato, porque, se calhar, os meus agentes não estão neste momento no país e há determinadas conversas que não passam por mim e passam por eles. Por isso, atrasámos. Mas eu fiz tanta questão que acontecesse hoje, quer eu, quer o Presidente, realmente por isso, para marcar este início, de amanhã, com a equipa, e celebrar da melhor forma aquilo que eu acho que são 20 anos desde que aqui cheguei, para treinar os meninos de 10 anos. A coisa mais importante do Benfica é o futebol profissional. Nós não nos podemos esconder disso. Agora, e, no entanto, o mundo do Benfica é enorme. E o Presidente tem feito o seu trabalho de dar continuidade a um projeto que iniciou há muito tempo, para continuar a trazer títulos e grandezas para o Benfica. Se nós formos às histórias recentes dos presidentes, se calhar nem todos começaram da melhor maneira... O Presidente começou logo com um título e com uma época de sucesso, por isso, o caminho faz-se caminhando. Aquilo que eu desejo ao meu Presidente é o que ele deseja, também, para mim, porque, além de termos relação de Presidente e treinador principal, já tivemos a relação de diretor da Formação e treinador de Iniciados, em que, depois de 20 anos sem ganhar um título, o ganhámos. Já tivemos a relação de diretor-desportivo e treinador da equipa principal, e vencemos o título. Agora, temos esta relação de Presidente e treinador, e aquilo que desejo é que quando se olhar para a carreira do nosso Presidente daqui a 20 anos, que se olhe para uma carreira de sucesso, à imagem do jogador que foi.

Bruno Lage com o Presidente Rui Costa

Como Benfiquista, como viu as saídas de João Neves, Neres e Marcos Leonardo?

Como é que eu vi? Sabe que... Qual é o clube que nos últimos anos tem conseguido manter no quadro os seus melhores atletas? Por isso, aquilo que é o mais importante, independentemente das saídas, é nós olharmos para o plantel e sentirmos que o plantel foi feito, está ajustado, e que é competitivo para aquilo que se avizinha. O Neres e o Marcos Leonardo não os conheço, assim como não conheço o João Neves. Agora, claro que nos deixa sempre... Quando se vê um atleta deixar a casa é sempre um motivo para nós nos sentirmos realizados no bom sentido, no trabalho que tem sido feito na Formação, na forma como os jogadores chegam à equipa principal. Depois, por muito fácil que seja desse lado [dos jornalistas] analisar as coisas do modo sim ou não, o que acontece deste lado, da proposta que chega ao clube, da proposta que chega ao jogador... Há decisões que têm de ser tomadas. Eu não estava cá, não lhe posso dizer o que se passou, mas já vi muitos jogadores a darem esse passo, e isso também é a forma de como o Benfica tem trabalhado. Saiu o João Félix com o título, saiu o João Neves com o título. E o nosso trabalho, e o meu, porque tenho sempre o olhar para a Formação, é estarmos sempre a olhar e perceber se temos homens e jogadores como o Rúben Dias, o João Félix, como o Ferro, como o Tino [Florentino], como o João Neves, como o Renato Sanches para defender as cores do Benfica.

Texto: Redação
Fotos: Victória Ribeiro / SL Benfica
Última atualização: 9 de setembro de 2024

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