Futebol Formação

28 maio 2024, 11h00

Nélson Veríssimo

Nélson Veríssimo

ENTREVISTA BTV

Na análise à época 2023/24, em entrevista à BTV, Nélson Veríssimo, treinador da equipa B do Benfica, considerou que os objetivos de desenvolvimento individual dos jogadores e de competitividade coletiva foram cumpridos.

Com a vitória sobre o FC Porto B no último compromisso da temporada como ponto de partida, o técnico avaliou detalhadamente a prestação das águias na Liga 2, mas também na Premier League International Cup.

Nélson Veríssimo abordou ainda a proximidade entre os resultados obtidos pelos encarnados no Benfica Campus e nos redutos oponentes, admitiu a dificuldade de trabalhar o processo defensivo da sua formação, vincou o peso do apoio dos Benfiquistas e relevou a necessidade de continuar a crescer para encarar uma temporada de maior exigência.

Nélson Veríssimo

TRIUNFO NO CLÁSSICO A COROAR "ANO DE MUITO TRABALHO"

"Foi a melhor forma de terminar a época. Obviamente, terminar com uma vitória, pelos números que foram [5-2], contra um adversário com a valia do FC Porto, acaba por dar sempre uma outra expressão ao que foi a nossa liga, mas também foi o culminar de um ano de muito trabalho, numa liga muito exigente e competitiva. Como estávamos à espera, os nossos jogadores tiveram um foco e uma ambição muito grandes."

AS FACES DO SUCESSO

"Obviamente, temos de analisar e olhar para esta época toda e perceber o que foram os objetivos atingidos. Claro que o mais palpável e visível são os pontos conquistados [45 pontos], a classificação que acabámos por obter [8.º lugar] e, olhando para esse aspeto mais quantitativo, os objetivos foram atingidos, mas também temos de olhar para a análise mais qualitativa, de processo, e também sentir que esses objetivos foram atingidos. Há uma coisa que é indesmentível, o resultado conta sempre. Os adeptos e sócios vão olhar para os resultados da equipa B, para a classificação, e nós, obviamente, também temos de olhar, mas a nossa análise também tem de passar por outra vertente, que é olhar para os nossos jogadores individualmente, para a equipa coletivamente, e sentir que, desde o início da época, e ao longo de todo o trajeto na Liga 2, têm de crescer. Para além de termos os nossos objetivos de Liga 2, no que é o número de pontos e a classificação a obter, também temos de olhar para os nossos jogadores e sentir que os estamos a preparar com um primeiro objetivo de chegar à equipa A, e eles terem capacidade para dar resposta. Felizmente, os números mostram isso, em função do que foram as opções do míster Roger [Schmidt]. Tivemos a oportunidade de estrear quatro jogadores na primeira equipa e houve outros jogadores que, não tendo minutos na equipa principal, também foram convocados, e isso é um excelente indicador para nós. Mas, acima de tudo, também ter o sentimento que os jogadores saem daqui, aqueles que terminam o seu percurso na formação e na equipa B, e estão preparados para dar uma resposta muito positiva, competente e competitiva, porque a qualidade eles têm, seja na equipa A, seja noutro contexto competitivo. Isso também é uma das nossas funções e ambições, e chegamos ao final desta época e sentimos que isso foi conseguido. Também temos de ser suficientemente exigentes connosco e perceber que, naturalmente, há coisas que podemos melhorar."

Nélson Veríssimo

POSTURA COMPETITIVA NA LIGA 2

"Foi uma Liga 2 muito competitiva. Se olharmos para os dados estatísticos, fizemos, em termos pontuais, uma 1.ª e uma 2.ª voltas equilibradas. Fizemos 23 pontos na 1.ª volta e 22 na 2.ª volta. Em termos de resultados, começámos com uma vitória com o Mafra, depois tivemos uma sequência de quatro jogos em que só fizemos um ponto. Olhando para o nosso percurso ao longo da época, só tivemos uma série de três jogos em que não pontuámos, que foi agora na parte final. É verdade que houve séries de quatro jogos em que fizemos um ponto, mas a equipa foi somando pontos. Na nossa opinião, há um momento que, de certa forma, acaba por marcar o processo de jogo da equipa, que foi o jogo que fizemos com o Santa Clara, em que nós, em função da resposta que a equipa estava a dar, mas, acima de tudo, em função das características individuais dos nossos jogadores, sentimos uma necessidade de inverter o triângulo do meio-campo. Claro que isso vai ter implicações no modo de atacar e defender. O jogo foi à 8.ª jornada, e, nas 11 jornadas seguintes, perdemos dois jogos e tivemos uma sequência muito positiva a somar pontos. Isso deu mais estabilidade à equipa, permitiu que os nossos jogadores, dentro das dificuldades que tinham, dos pontos que achávamos que deviam melhorar e atendendo também às características individuais dos jogadores, por um lado, conseguimos potenciar a sua forma de jogar e o que contribuíram individualmente para a equipa, e também sentimos que a equipa, em função desses posicionamentos, foi crescendo. Depois, foi cimentar a ideia, dar-lhes confiança, e as coisas foram evoluindo. Foi um campeonato em que os jogadores foram sempre dando resposta, tivemos um dos ataques mais concretizadores da Liga, uma das equipas com mais posse de bola, ao fim ao cabo, aquilo que é o ADN e a identidade desta equipa e das equipas do Benfica, mas também apanhámos jogos difíceis. Apresentámos, em todos os jogos, a equipa com a média de idades mais baixa da Liga 2. Obviamente, eles têm qualidade, há uns jogadores mais experientes que outros, mas depois têm de ter a maturidade da competição. Jogar contra jogadores que já têm muita experiência de I e II Liga, contra equipas com outra maturidade, causa-nos dificuldades, mas isso faz parte do processo de aprendizagem. Obviamente, fomo-nos conseguindo adaptar. Na Liga 2, apanhamos muitos jogos em que estamos no momento sem bola, no processo defensivo, que temos de transitar, mas a equipa foi dando sempre resposta pela qualidade, acima de tudo, também muito pela ambição, mentalidade, pelo foco, pela forma positiva como íamos encarando cada jogo, portanto foi um desafio muito bom. A maior satisfação que nós temos enquanto treinadores é perceber que em todos os jogos fomos competitivos. Obviamente não ganhámos os jogos todos, esse era o nosso desejo, dos jogadores e de todos os Benfiquistas, mas lutámos pela vitória em todos os jogos e fomos competitivos. Quando sentimos isso, sabemos que é uma questão de tempo, e também de trabalho, resiliência, de conseguir superar as dificuldades, até os pontos começarem a surgir, e foi o que a equipa foi fazendo. Foi somando pontos, construindo, ganhando confiança e, depois, acabámos por fazer uma reta final de liga muito boa. Só temos de estar satisfeitos e orgulhosos pelo que conseguimos em termos quantitativos, mas também olhar para a equipa e ter a noção e a convicção de que todos eles cresceram e evoluíram."

Nélson Veríssimo

CONSISTÊNCIA INDEPENDENTE DO REDUTO

"Tivemos o mesmo número de vitórias em casa e fora, portanto, obviamente, podemos ver isso de duas maneiras. Ou valorizar o facto de termos conseguido vitórias fora difíceis, em Santa Maria da Feira, com o Mafra, em que estivemos em desvantagem e depois virámos, com o Penafiel, que foi um jogo muito difícil, mesmo com o Belenenses, em que estivemos a perder 2-0 e virámos para 2-3, portanto temos de valorizar essa capacidade de a equipa dar resposta perante a adversidade. Por outro lado, tivemos seis vitórias em casa e, obviamente, é um registo que, tendencialmente, gostaríamos de melhorar. Houve jogos em que estivemos em vantagem em casa, e acabámos por deixar fugir três ou quatro jogos nessa circunstância. Está um pouco equiparado a anos anteriores. São sempre registos que temos de analisar, perceber o porquê e, naturalmente, querer melhorar. O que diria, pegando nesses dados e transportando para a próxima época, era obviamente melhorar tudo, essa tem de ser a nossa exigência, mas, se puder manter o registo de vitórias fora que tivemos nesta época, e melhorar o registo de vitórias que tivemos em casa nesta época, seria um bom passo para projetar a próxima época, sabendo que não há equipas nem campeonatos iguais, portanto cada jogo e liga vão ser desafios diferentes."

PREMIER LEAGUE INTERNATIONAL CUP ESTIMULANTE

"Neste ano, tivemos um desafio enorme, porque estes jogos são marcados em função da disponibilidade da nossa equipa e das equipas contrárias, e tivemos situações em que jogámos a um domingo, e na terça-feira estávamos a jogar com as equipas inglesas. Jogámos com o Fulham, o Crystal Palace, o Everton e o Liverpool. Em termos de contexto competitivo, é top, porque os nossos jogadores vão medir forças com equipas estrangeiras muito competitivas, de outras ligas. Os resultados dizem o que dizem, a verdade está lá, mas também encarámos estes jogos da Premier League International Cup como um momento competitivo para dar espaço àqueles jogadores que não jogavam tanto na nossa competição interna. Acaba por ser sempre uma competição interessante nessa perspetiva, porque temos a Liga com 34 jornadas, em função do intervalo de tempo, não estamos envolvidos em mais nenhuma competição. Obviamente, temos jogos particulares, jogos muito importantes com a equipa A, quando o míster Roger [Schmidt] nos chama, é sempre um momento que os nossos jogadores tentam aproveitar e em que o nível de exigência e competitividade é grande, mas também temos a oportunidade de nos deslocarmos a Inglaterra e fazer estes jogos com este tipo de equipas, que nos colocam outros desafios, pela dimensão física, pela capacidade de ataque à profundidade, pelo jogo muito objetivo que senti que tinham, para além da qualidade técnica. São sempre estímulos diferentes e, em função do estímulo diferenciado que vamos apanhar e também da complexidade do estímulo, naturalmente, isso também obriga que o jogador e que as equipas cresçam, e isso é muito benéfico para nós."

Nélson Veríssimo

DESAFIO DE EVOLUIR DEFENSIVAMENTE

"Jogar com bola e para a frente faz parte da identidade e do ADN das nossas equipas, mas, quando chegamos a uma competição como a Liga 2, também temos de estar preocupados com o momento de equilíbrio defensivo. Temos a bola, mas há jogadores que não estão diretamente no centro do jogo, então têm de estar a equilibrar a equipa, temos de nos preocupar com o momento de transição e de organização defensivas. Esse é um momento em que os jogadores, no processo de formação, não passam muito tempo, e isso acaba por ser uma dificuldade adicional. É preciso tempo para trabalhar esse momento, mas as equipas bês começam a ser renovadas, fruto do projeto, há jogadores que ficam dois/três anos, no máximo, depois, a partir daí, naturalmente, vão seguir o seu percurso competitivo. Isso cria-nos um problema em termos de espaço temporal para trabalhar a equipa, mas é algo que sabemos que é assim, que temos de trabalhar, e os jogadores também sentem que é um momento que temos de trabalhar, mas, acima de tudo, satisfaz-nos a forma como os nossos jogadores pegam na bola. Claro que é um momento que nos dá muito prazer e satisfação, por norma as equipas bês marcam sempre muitos golos. Há equipas que marcaram mais golos do que nós, mas marcámos o mesmo número de golos que a equipa que sobe de divisão [Santa Clara]. Mas, claramente, o momento defensivo é um momento que temos de trabalhar, e é sempre um desafio, porque os nossos jogadores têm o chip da bola e da baliza contrária, mas temos de ter algum equilíbrio na passagem do momento com bola para sem bola."

BENFIQUISTAS "FAZEM REALMENTE A DIFERENÇA"

"Obviamente, também tem importância o apoio que nós recebemos. Estar aqui a enumerar jogos em que, especificamente, sentimos esse apoio, se calhar estamos a ser injustos para todos os outros jogos em que as pessoas também se deslocaram, seja em casa, seja fora, e nos deram o seu apoio. Se tivesse de destacar, em termos de Liga 2, o jogo em Mafra, em que estivemos a perder 1-0, e, depois, virámos para 1-2, e, claramente, os sócios e simpatizantes tiveram um impacto grande no elã criado à volta da equipa, mas também tivemos o jogo na Madeira, com o Marítimo, que acabámos por perder, mas começámos a ganhar com um grande golo do Pedro Santos, em que também tivemos uma manifestação muito grande por parte dos adeptos. Tivemos a competição da Premier League International Cup, em Inglaterra, jogos a meio da semana, ao final do dia, em que também sentimos o apoio dos nossos sócios e adeptos. Estes foram, se calhar, aqueles que sobressaíram mais, mas, em todos os jogos, sentimos que os nossos sócios fazem realmente a diferença, às vezes até quando a equipa não está bem, quando começam a chamar a atenção, isso também desperta a equipa. É algo que faz parte da nossa forma de estar, esta ligação que eles têm connosco e que nós, enquanto equipa, temos com eles, porque também puxamos pelo apoio que nos dão ao longo dos 90 minutos. Espero que continuemos a ter, na próxima época, o apoio que tivemos nesta."

Nélson Veríssimo

"PASSO EM FRENTE" NA PRÓXIMA TEMPORADA

"O desafio para a próxima época vai ser diferente e mais complexo, como tem sido nas outras épocas. Há jogadores que vão sair, que vão continuar, que vão transitar das equipas de Sub-23 e de Sub-19 para a equipa B, que provavelmente vão ter de vir de fora. Vamos ter de reconstruir a equipa, mas isso faz parte, é uma coisa normal no projeto de equipa B. Olhando para o nível e contexto, para a formação dos plantéis, para as equipas que estão a descer e podem subir, para a capacidade de investimento, acredito que a próxima época vai ser outra vez difícil, mas, como diria um treinador meu: 'Se fosse fácil, não seria para nós.' Estamos cá, reconhecendo que vai ser uma época difícil, que todos nós, jogadores, equipa técnica e staff, temos de dar um passo em frente na exigência, nas nossas rotinas, porque só assim é que as equipas crescem. Se todos nós tivermos essa consciência e foco, de dar mais um passo, subir mais um degrau na exigência, mentalidade e ambição, certamente vamos acabar por ter o nosso caminho mais simplificado."

Texto: Simão Vitorino
Fotos: SL Benfica
Última atualização: 28 de maio de 2024

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