Futsal

31 dezembro 2023, 12h29

Léo Gugiel

Léo Gugiel

A viver uma ótima fase a nível pessoal e profissional, Léo Gugiel concedeu uma entrevista ao jornal O Benfica em que abordou o ano e meio em que defende as cores do clube. Já com três títulos conquistados, há dois a faltar...

Chegou há pouco mais de ano e meio ao Benfica e, desde cedo, mostrou credenciais que lhe permitiram figurar entre as opções para as redes encarnadas. Contudo, devido aos problemas na hora do nascimento do seu filho, os primeiros tempos de Léo Gugiel em Portugal não foram fáceis a nível pessoal, mas a sua determinação e o apoio interno do Clube fizeram com que mantivesse sempre a bitola alta.

A viver uma quadra natalícia e uma passagem de ano longe do seu Brasil natal, país que ambiciona representar no próximo Mundial, Léo Gugiel abriu o livro da sua vida nesta entrevista ao jornal O Benfica. Recordou o passado, analisou o presente e projetou um futuro onde há duas ambições em particular: ganhar o Campeonato Nacional e a Champions.

Léo Gugiel

O Léo é, indiscutivelmente, um dos melhores guarda-redes do mundo. Sente que, a cada jogo, está um guardião mais completo?
Sem dúvida. Há sempre um período de adaptação a um futsal diferente, apesar de a língua ser muito parecida. Mas todos os lugares têm coisas novas, e aqui não foi diferente. No ano passado também aconteceu a situação do meu filho, mas agora está tudo a seguir o seu caminho, e é ir buscar mais títulos com a camisola do Benfica.

Esta primeira metade da época tem revelado um Léo num nível muito alto, com grande destaque para a Ronda de Elite da Champions. Sente que foi a sua melhor prestação ao serviço do Benfica?
Nesta temporada acredito que sim. Foi muito importante. Sabíamos que ia ser difícil, até pela viagem ao Cazaquistão, que foi complicada. Mas todos deram o seu melhor, as coisas foram acontecendo, e acabou da melhor maneira, com mais uma qualificação para a final four.

Aquele lance frente ao Kairat, em que tem uma ação decisiva para o golo do Afonso… Como recorda esse momento?
Quando vou com a bola pelo meio do campo, consigo perceber que, se rematar, o meu adversário não vai conseguir chegar. É nesse momento que consigo fazer a finalização. Aí, o Afonso, tal como fazemos habitualmente no treino, sabe que em 99% das situações a bola cai ali, e não foi diferente desta vez. Ele estava lá à espera da bola, após a defesa do Higuita. Foi importante para inaugurar o marcador e vencer uma partida tão complicada como aquela.

Léo Gugiel

"Está tudo a seguir o seu caminho e, agora, é ir buscar mais títulos com a camisola do Benfica"

Léo Gugiel

De onde nasceu essa sua habilidade para jogar com os pés?
Desde muito miúdo. Sempre joguei futsal, mesmo à frente. Com o passar do tempo, passei a ficar na baliza. Mas, ao mesmo tempo, comecei também a jogar futebol, e como lateral-direito. A partir daí, fui desenvolvendo essa capacidade na baliza: quando precisava de jogar com o pé, fosse para fazer um passe ou para rematar, isso ajudava-me.

Sente que isso é algo que o diferencia de muitos outros guarda-redes?
Certamente. Atualmente, quem jogava pouco ou não tinha essa característica de jogar com os pés está a tentar aprimorar essa qualidade. Tanto, que a maioria dos treinadores está a pedir, no mínimo, que, pelo menos, se saiba fazer um bom passe. Acredito que, com a evolução do jogo, isso fará muita diferença.

E essa característica acaba por ser uma arma que os treinadores gostam de utilizar…
Sim, normalmente, quando me contactam, é já por conhecerem essa minha característica. Até porque esse é um tipo de jogo de que também gosto. Se ficar apenas debaixo da baliza, parece que estou amarrado...

Léo Gugiel

"Falta ganhar a Champions também... Mas, sim, a nível interno falta um, que é o Campeonato"

Entre os postes, o Léo demonstra uns reflexos impressionantes. É muito trabalho, ou é algo mais natural?
É trabalho, com certeza. Se ficar dois meses sem fazer nada e for treinar, qualquer remate vai entrar. Embora acredite que tudo tem um pouco de dom, uma grande parte vem do trabalho que fazemos tanto em equipa como com o nosso treinador de guarda-redes.

Do ponto de vista coletivo, desde que chegou ao Clube, conquistou três títulos nacionais: Taça da Liga, Taça de Portugal e Supertaça. Fica a faltar um…
Faltam dois [risos]… Falta ganhar a Champions também… Mas, sim, ao nível interno falta um, que é o Campeonato. No ano passado estivemos muito perto de o conseguir, foram jogos muito difíceis e desgastantes, decididos nos detalhes. Infelizmente, acabou por não o atingirmos. Mas estamos a trabalhar firme e forte para chegarmos ao fim da época campeões nacionais.

Sente que a equipa está no caminho certo para chegar ao momento dos play-offs no seu melhor, mesmo não estando em 1.º lugar?
Não tenho dúvidas. Apesar de estarmos em 3.º lugar, acredito que estamos num caminho muito bom. Vínhamos numa sequência de jogos, um atrás do outro, jogos muito difíceis, e estávamos a conseguir manter um bom nível de futsal. Agora, é continuar e voltar com tudo para sairmos vencedores, até porque tivemos uns dias para descansar.

Léo Gugiel

"Já acompanhava o Benfica por fora, e ficava maluco quando assistia aos jogos. Ficava com vontade de jogar pelo Clube"

A eventualidade de ter de decidir o título na casa de um adversário é algo que vos traz ainda mais motivação para trabalhar? Até porque os benfiquistas vão, certamente, lá estar…
Sem dúvidas. No ano passado tivemos dois jogos muito difíceis em Braga, e toda a gente viu o pavilhão repleto de adeptos do Benfica. Parecia que estávamos a jogar em casa, logo, não há uma influência tão grande por se estar a jogar fora.

Ficou impressionado com essa massa adepta do Benfica?
Muito. Já acompanhava o Benfica por fora, e ficava maluco quando assistia aos jogos. Ficava com vontade de jogar pelo Clube. Sempre foi um objetivo vestir as cores do Benfica. Quando me tornei profissional, passei a acompanhar o futsal por dentro, mas sempre olhei com olhos diferentes para o Benfica. Via os adeptos, que não paravam de cantar, e ficava com muita vontade de estar aqui e, graças a Deus, estou a realizar esse sonho.

Com uma verdadeira parede vermelha atrás de si…
Não só para mim como para a equipa toda. Quando entramos em campo, ficamos logo arrepiados... Como costumo de dizer, nem precisamos de aquecer. Só quem aqui está é que consegue perceber essa sensação.

Léo Gugiel

"Tive a oportunidade de acompanhar essa conquista [futsal feminino] e aproveito para lhe dar os parabéns. Espero que, no fim da época, também consigamos conquistar a Champions"

Estando presente na final four da Champions, essa conquista é um objetivo?
Quando vestimos as cores do Benfica, qualquer competição em que entramos é para ganhar. A Champions não é diferente. Esta é a 3.ª final four seguida do Clube, e entrámos sempre para sermos campeões. Desta vez não vai ser diferente. O emparelhamento dos jogos que vai resultar do sorteio será difícil, pois todas as equipas são de grande qualidade. Temos de apresentar o nosso melhor futsal, fazer bons treinos para fazer uma boa preparação, e, quem sabe?, desta vez, ganhar o bicampeonato europeu.

Recentemente, a equipa feminina conseguiu-o. Pode servir de inspiração?
Tive a oportunidade de acompanhar essa conquista e aproveito para lhes dar os parabéns. Foi um feito muito grande. Tanto que lutaram pelo futsal feminino e para a sua visibilidade, que isso é espetacular. Parabéns a cada jogadora pela conquista, que serve de inspiração para nós. Espero que, no fim da época, também consigamos conquistar a Champions.

Uma mensagem para os benfiquistas…
Podem esperar sempre o melhor. Independentemente de qualquer situação. Sabemos que, às vezes, as coisas não acontecem da melhor forma, mas no que toca ao empenho, à dedicação, isso nunca irá faltar. Tanto da minha parte como da parte da
equipa. Vai ser assim até ao fim. Enquanto respirarmos, vamos dar o nosso melhor pelo Benfica.

Léo Gugiel

UM NATAL "SIMPLESMENTE MARAVILHOSO"

Depois de, em 2022, a saúde do filho recém-nascido ter obrigado a cuidados redobrados, esta quadra natalícia está a ser vivida na sua plenitude.

Há ano e meio em Portugal, como é viver esta quadra natalícia longe de casa? É muito diferente daquela que vivia no Brasil?
Não muito. É um pouco diferente na Rússia, mas aqui em Portugal é muito parecido ao que se faz no Brasil. E acaba por fazer reunir mais os brasileiros.

Como viveu este Natal em especial?
Foi muito bom. No ano passado estava um pouco apreensivo, pois o meu filho tinha nascido recentemente e saiu do hospital ainda prematuro. Estava muito pequenino na época, então ficámos mais por casa e em silêncio. Só eu e a minha esposa. Neste ano, já foi diferente, pois vieram alguns amigos e tive a felicidade de poder trazer a minha mãe. Foi simplesmente maravilhoso.

Podemos, então, dizer que está a viver um ótimo momento tanto dentro como fora da quadra...
Uma coisa está sempre conciliada com a outra. Estando bem com a família e com saúde, tudo vai fluindo dentro da quadra. E os resultados estão aí para comprovar que as coisas estão a fluir da melhor maneira.

Como lidou com a situação do seu filho e com a atividade desportiva em simultâneo, até porque o seu rendimento se manteve sempre alto?
Foi um momento bem complicado. Estava dividido entre a minha esposa, o meu filho e o Benfica. Mal cheguei ao Clube, a minha esposa teve de ser internada, e ficou no hospital praticamente até ao fim da gravidez. Depois o meu filho ficou quase dois meses na incubadora, devido à prematuridade. Consegui lidar da melhor forma possível. Graças a Deus, os meus companheiros e a minha equipa técnica ajudaram--me muito nisso. Quando aqui chegava, conseguia esquecer tudo o que se passava lá fora. Fui acolhido como que em família, todos conheciam a minha situação, e no fim correu tudo da melhor maneira possível. Depois, o meu filho acabou por crescer, saiu do hospital, e assim continua.

Léo Gugiel

"Para o que falta da época, quero conquistar os quatro títulos que temos de disputar. E, no fim da temporada, ter a responsabilidade de representar a seleção brasileira no Mundial. É um misto de sonhos"

O apoio do Benfica foi importante para a sua estabilidade?
Com certeza. Deram-me toda a proteção. Tudo o que precisava, apenas falava com a estrutura. Todas as situações foram avisadas ao Benfica, mas nada de mais sério aconteceu e tudo correu da melhor forma.

Disse que o Natal na Rússia era o mais diferente dos três que já viveu. Conte-nos um pouco da sua experiência.
Fazem-se os jantares tradicionais, mas, na equipa em que jogava [Tyumen], os meus companheiros gostavam muito de fazer sauna. Portanto, comiam, bebiam e depois, como a maioria tem sauna em casa, iam fazer sauna. Ou seja, estavam entre a neve e a sauna. Foi uma experiência divertida, diferente.

Do ponto de vista pessoal, quais os seus maiores desejos e ambições para 2024?
Para o que falta da época, passam por conquistar os quatro títulos que temos de disputar. E, no fim da época, ter a responsabilidade de representar a seleção brasileira no Mundial. É um misto de sonhos.

E havendo uma final entre Portugal e Brasil?
Quem sairia a ganhar seria o futsal. São, atualmente, as duas maiores seleções do mundo e têm grandíssimos jogadores. Mas, se isso acontecer, espero que caia para o lado do Brasil [risos].

Artigo publicado na edição de 29 de dezembro do jornal O Benfica

Texto: João André Silva
Fotos: Victória Ribeiro / SL Benfica
Última atualização: 21 de março de 2024

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