Pedro Marques: "Foi um ano francamente positivo"

ENTREVISTA BTV

O ano 2022 foi muito positivo para o futebol de formação do Clube. A afirmação é de Pedro Marques, diretor técnico do futebol jovem do Benfica, que realizou um balanço em entrevista exclusiva concedida à BTV. As conquistas internacionais, a presença de vários jogadores na Equipa A e a retoma em força pós-COVID foram também assuntos em destaque.

Após dois anos fortemente marcados pela pandemia, o Clube conseguiu recuperar as dinâmicas que o caracterizam e hoje é possível ter "novamente o projeto em força". A presença de vários jogadores da Formação no atual plantel da equipa principal é algo realçado, assim como as conquistas da UEFA Youth League e da Taça Intercontinental. Pedro Marques olhou ainda para 2023 e para os desafios que o novo ano traz, revelando que a ambição é a de estar à altura das exigências e de continuar a garantir que os jovens jogadores chegam preparados ao patamar sénior.

A RETOMA APÓS PANDEMIA

"Para olharmos para 2022, temos sempre de olhar para os últimos dois anos, fortemente condicionados pela pandemia. Felizmente neste ano já conseguimos retomar a nossa atividade em pleno. Isto significa que conseguimos estar espalhados por todo o País. A atividade da prospeção voltou em força, com muita gente no terreno à procura dos melhores talentos. Foram observados milhares de jogadores em Portugal e é um pouco a base do que é a entrada para o projeto do futebol de formação do Benfica. Na atividade das Escolas de Futebol ao longo do ano, no que é o contacto com a realidade do Clube, independentemente do nível a que possam jogar, não só em Portugal, mas também em alguns projetos internacionais que temos, conseguimos retomar em pleno. Se olharmos para os CFT, reforçámos a oferta que temos, não só a nível desportivo, mas também a nível da melhoria de infraestruturas que dão suporte ao trabalho aí desenvolvido. Retomámos também o contacto desses jovens com a casa mãe. Na atividade em Lisboa e no Benfica Campus conseguimos voltar a ter todos a trabalhar. Tivemos mais de 500 jogos só aqui no Seixal, milhares de treinos e outras atividades complementares, e isso era o que nós ansiávamos, ter novamente o projeto em força. Passados esses dois anos de muito constrangimento, é bom conseguirmos ver que o projeto continua a andar, fruto também do investimento do Benfica nesses momentos mais difíceis, e hoje temos a alegria de ver jogadores chegarem à equipa principal."

UM ANO POSITIVO EM TODOS OS SENTIDOS

"Foi um ano francamente positivo. Se olharmos para os três principais grandes eixos em termos de objetivos (a promoção de jogadores, o desempenho desportivo e depois uma formação mais integral dos jovens jogadores), podemos dizer que este ano foi positivo. A época ainda não acabou, mas se olharmos para os últimos 12 meses, em termos de promoção de jogadores tentámos sempre dar oportunidades e colocar os atletas num nível competitivo mais ajustado. Tivemos muitos jogadores a jogar num patamar acima do seu escalão etário, tentando dar-lhes os melhores estímulos. Para nós é das coisas mais difíceis, mas que nós fazemos com a convicção de que criamos condições para eles se desenvolverem. Depois, neste principal objetivo de formação e promoção de jogadores, não podemos deixar de olhar para o que é o produto final, a chegada dos atletas à Equipa A. Pensamos que tivemos a felicidade, mesmo com a mudança da equipa técnica e na transição de uma temporada para a outra, de continuarmos a ter jogadores a terem essa oportunidade, criada pelo planeamento da Equipa A, pela aposta do Presidente, com o abrir de portas por parte do treinador Roger Schmidt, que continuou a olhar para os jogadores do futebol de formação (que acaba por ser um dos pilares estratégicos do Clube)."

O EXEMPLO ANTÓNIO SILVA

"Não foi por acaso que estiveram 14 jogadores [formados no Benfica Campus] na pré-época [da Equipa A], nove acabaram por ficar no plantel. Olhando no cômputo geral, não podemos deixar de referir a preparação que alguns jogadores tinham quando lá chegaram. Se olharmos para o caso do António Silva, que nos surpreendeu a todos no que foi o nível de topo a que muito rapidamente conseguiu chegar, apesar de nós sentirmos que ele tinha condições para o fazer, numa oportunidade mostrou estar preparado, que o trabalho feito nos anos anteriores e durante muitos anos por muita gente, obviamente dentro do que é o seu talento, permitiu que ele chegasse a esse patamar. Conseguir afirmar-se na Equipa A, tão jovem e tão rapidamente, numa oportunidade que surgiu, ter agarrado o lugar, ter chegado à Seleção Nacional e tornar-se no jogador mais jovem de sempre a estrear-se num Campeonato do Mundo, essas são as nossas alegrias e conquistas no final do trabalho do dia a dia."

AS OPORTUNIDADES CRIADAS

"Posso falar do António Silva, mas não me canso de falar das oportunidades que foram criadas. Só nesta época, os jogadores da formação que estão no plantel da Equipa A, no seu somatório, participaram em mais de 100 jogos no seu total e tiveram mais de 6000 minutos. Isto é de realçar, não só pela aposta e pelo olhar para estes talentos, mas também no trabalho necessário para que eles possam lá chegar."

CONQUISTA DA TAÇA INTERCONTINENTAL E DA UEFA YOUTH LEAGUE SÃO PONTOS ALTOS DE 2022

"O desempenho desportivo e a competição são um eixo muito importante para o desenvolvimento, porque é aí que os jogadores realizam tudo o que é o trabalho do dia a dia e é onde nós conseguimos observar, avaliar e tentar projetar o que é o seu potencial futuro. Competimos em vários níveis, desde os mais pequeninos, com essa experiência em torneios nacionais e internacionais, e neste ano conseguimos voltar a ter muitas dessas experiências, para os escalões mais jovens. No que são as competições mais de referência, mais no final da linha, onde o competir para ganhar nos dá um bom indicador do quanto eles estão preparados para o próximo nível, foi sem dúvida um ano positivo. Conquistar o Campeonato Nacional de Juniores, a UEFA Youth League (onde conseguimos vencer à quarta tentativa) e depois a Intercontinental, disputada pela primeira vez, em condições em que tivemos de nos deslocar até à América do Sul para jogar num Estádio Centenário cheio, foram sem dúvidas experiências que acrescentam na formação destes jogadores."

VOLTAR MAIS FORTES APÓS MOMENTO MENOS BOM

"Olhando ainda em termos competitivos já para esta época, não podemos deixar de assumir que a nossa participação na UEFA Youth League ficou aquém das expetativas. Falhámos um objetivo, que era chegar novamente à final four da competição. Não conseguimos, apesar de termos uma geração boa, até com valores a aparecer na Equipa B e também na equipa principal. Não fizemos jogos bons em casa, não começámos bem a competição e tivemos dificuldade em dar a volta. Esses pontos que não fizemos em casa penalizaram-nos. Tenho a certeza de que vamos voltar para o ano, com toda a força, com novas gerações e até lá temos os Campeonatos Nacionais para continuar a disputar. Nesta época temos todas as equipas em primeiro lugar nos Campeonatos Nacionais, bem posicionadas para chegar às fases finais e para termos bons estímulos de desenvolvimento para estes jogadores."

OS CAMPEONATOS NACIONAIS DA 2.ª DIVISÃO (SUB-15 E SUB-17) E AS SUAS MAIS-VALIAS

"Foi algo que trabalhámos junto da Federação, dando a nossa perspetiva de que essas competições poderiam acrescentar um nível competitivo às nossas equipas, que neste caso disputavam Campeonatos Distritais. Os nossos Sub-16, que jogam nesta Divisão, têm um estímulo e uma dificuldade acrescida, o que também acontece com a nossa equipa que compete na Segunda Divisão de Sub-15. São desafios para eles, mas o caminho da formação é de longo prazo, não é linear, não são só sucessos, também é preciso sofrer. Ter algumas dificuldades e algumas tristezas no percurso também os fazem crescer. Ajudam a formar jogadores mais preparados para as exigências do futebol profissional. Encaramos esses desafios como parte do processo."

PROJETO DE FORMAÇÃO INTEGRAL

"Olhamos para a criança e para o jogador em desenvolvimento como um projeto de formação integral. Gostamos de pensar no projeto de formação do Benfica como uma Escola de Futebol que seja também uma escola para a vida. Sabemos que nem todos vão chegar ao patamar da Equipa A, esperamos que a maioria tenha uma carreira de futebolista profissional, mas também queremos que saiam bem preparados enquanto homens. A formação e o trabalho escolar e social, feito aqui, é de suporte e de criar melhores jogadores na sua globalidade. Conseguimos retomar neste ano as atividades de comunhão com a comunidade, em que os atletas têm o contacto com uma realidade um pouco mais desfavorecida, em que se podem envolver e retribuir um pouco o que o Benfica lhes proporciona e ter esse impacto na nossa comunidade."

FORTE PRESENÇA NAS SELEÇÕES NACIONAIS JOVENS

"Acabamos por olhar a presença nas seleções nacionais como um objetivo de orgulho. É também um elemento de comparação quando percebemos que o Benfica dominou as convocatórias e as participações nas várias seleções ao nível de 2022."

SER TAMBÉM UMA ESCOLA DE TREINADORES

"Neste ano tivemos vários ajustes nas equipas técnicas. Acabámos por apostar nos treinadores e numa estrutura que tínhamos no Benfica Campus. É o que temos feito nos últimos anos, e apesar de isso poder trazer uma ou outra dor de crescimento, acreditamos que podemos ter aqui uma escola de treinadores e que podemos dar-lhes a possibilidade de progredirem e de terem novos desafios. Tentamos manter em contínuo a formação dos nossos treinadores. Temos uma série de atividades de formação interna quase todas as semanas, não só aqui no Benfica Campus, mas também em Lisboa, nos Centros de Formação e Treino e nas Escolas de Futebol. Temos atividades mais pontuais, com convidados externos. Neste ano, com o Congresso dos Guarda-redes, abrimos também ao exterior. Pensamos em repetir estas atividades em 2023."

PLANOS PARA 2023

"Olhando a curto prazo, pensamos nas fases finais que vamos disputar. Vamos continuar a tentar encontrar o melhor enquadramento competitivo e de desenvolvimento para os nossos jogadores. Vamos ter os jogadores mais bem preparados a competir na Liga 2, o que para nós, é fantástico. Nos Sub-23 temos um plantel de base de jogadores de Sub-19 que vão tentar conquistar pela primeira vez a Liga Revelação. Nos Juniores temos pela primeira vez um plantel de base de Sub-18, com jogadores também de Sub-17, onde vamos estar numa fase final em que queremos competir sempre para ganhar e para revalidar o título de campeão nacional. De uma forma mais abrangente, continuamos sempre com o desafio, cada vez mais, de encontrar o melhor talento, convidá-lo a juntar-se ao nosso projeto. As coisas têm evoluído muito nos últimos anos a nível da qualidade e da quantidade de talento. Há muita concorrência na sociedade em termos de oferta. Queremos encontrá-los, conseguir atraí-los e também retê-los. Hoje em dia o futebol de formação do Benfica é cobiçado no que são os jovens talentos a nível internacional, nessa retenção e no dar-lhes caminho para o futebol profissional e para a nossa Equipa A, e isso é um desafio. E concluo com outro grande desafio que está relacionado com a velocidade com que as coisas nos dias de hoje acontecem. A sociedade é cada vez mais rápida, os jogadores, os pais e os agentes querem por vezes que as coisas aconteçam rapidamente, e nós, mais que isso, queremos que aconteçam bem e no momento certo. Temos todo o sinal da Equipa A e do nosso Presidente que vamos ter oportunidades para os jogadores chegarem e jogarem com a camisola do Benfica, e cá estamos para ajudá-los a conseguir."