Jorge Jesus: "Temos de fazer a nossa obrigação"

ANTEVISÃO

O Benfica encerra, nesta quinta-feira (17h55), a fase de grupos da Liga Europa, sabendo que o apuramento para os 16 avos de final está garantido, mas também que a liderança do grupo continua ao alcance. Na véspera do jogo com o Standard Liège, na Bélgica, Jorge Jesus revelou que vai "lançar alguns jogadores que nunca jogaram de início".

Na conferência de Imprensa realizada no Benfica Campus, o treinador encarnado foi confrontado com o aproximar do mercado de transferências, já em janeiro, deixando claro que não espera perder Darwin "nem qualquer outro jogador", e reafirmou a convicção de que as próximas fases da Liga Europa se equiparam à Liga dos Campeões.

O Benfica vai jogar na Bélgica já com o apuramento garantido. Que adversário espera agora encontrar, por comparação com aquele que se apresentou no jogo da Luz?

O nosso jogo com o Standard Liège no Estádio da Luz foi um dos melhores que fizemos no Grupo. Vencemos por 3-0, o resultado deu a ideia de que esta equipa não é muito forte, mas isso não é verdade. O futebol belga tem alguma capacidade, e por isso é que vemos equipas algumas equipas do campeonato belga a discutir apuramentos na Champions e na Liga Europa. Estamos qualificados para a próxima fase, mas isto não quer dizer que não vamos para o jogo com o objetivo e com a intenção de ganhar, porque há vários fatores que nos podem favorecer, como ser primeiro do Grupo, independentemente de eu não acreditar que o Rangers perca pontos na Polónia [com o Lech Poznan]. Mas temos de fazer a nossa obrigação, que é tentar ganhar para sermos os primeiros do Grupo, classificação que nos dá algumas hipóteses teóricas [evitando equipas da Champions] no sorteio [dos 16 avos de final]. Acrescento que vou aproveitar este jogo para lançar alguns jogadores que nunca jogaram de início.

Um desses jogadores será Todibo?

O Todibo é um jogador que tem estado parado, só começou a trabalhar há uma semana, portanto não tem condições técnicas nem táticas, porque não tem trabalhado com a equipa. Não é um dos jogadores em que estou a pensar lançar no jogo como uma novidade. Estou a pensar fazê-lo com um ou dois jogadores…

A equipa do Benfica já bateu o seu recorde de golos numa fase de grupos da Liga Europa [tem atualmente 16 marcados], sendo também uma das mais realizadoras nesta edição. Isto diz muito sobre o perfil deste coletivo?

Somos uma equipa com uma ideia muito objetiva e segura, olhamos o jogo mais para a frente do que para trás, mas isso também faz com que por vezes soframos mais golos do que aqueles que nós e os adeptos gostaríamos. Acredito que com uma ideia de jogo ofensiva ficamos mais perto de ganhar, é isso que estamos a fazer, sendo que há pormenores da nossa organização coletiva e individual que ainda não conseguimos acertar, de forma a que nos dê melhores garantias quando estamos a defender.

O Benfica tem sentido mais dificuldades no Campeonato do que na Liga Europa. Qual é a explicação?

Estão mais fáceis na Liga Europa porque falta um jogo para encerrar esta fase de apuramento. No Campeonato faltam muitos jogos para definir a classificação, ou seja, o objetivo, que é sermos primeiros classificados. Estamos em segundo, mas não estamos numa situação difícil no Campeonato, pelo contrário. Já estivemos várias jornadas em primeiro lugar e em pouco tempo vamos voltar a estar…

Até 23 de dezembro [data da final da Supertaça], o Benfica vai ter cinco jogos em diferentes competições. Como tenciona fazer a gestão da equipa? Vai fazer muitas mudanças? Não teme a perda de rotinas?

Não podemos ter tudo ao mesmo tempo. Os jogos que vêm a seguir são mais fáceis de gerir, porque uma coisa é jogar de três em três dias, outra é jogar de quatro em quatro. Temos jogos da Taça de Portugal e da Taça da Liga, podemos gerir a equipa de outra maneira.

Nos últimos jogos tem alternado na dupla que utiliza no meio-campo, sendo que é mais frequente Gabriel/Pizzi. Estas experiências significam que ainda não encontrou a dupla ideal?

Já encontrei a dupla no meio-campo e tenho a certeza de qual é a que eu quero. Mas, como há jogos de três em três dias, eu tenho de mudar vários setores, entre os quais essa dupla do corredor central, porque normalmente são os jogadores que mais quilómetros correm durante o jogo. É por isso que é mais mexido do que os outros.

Está preparado para perder Darwin em janeiro?

Não estou preparado para perder nenhum jogador em janeiro. Pelo contrário, estou preparado para ter mais algum.

Sabendo o que sabe hoje, voltava a prometer que esta equipa ia jogar o triplo?

Essa afirmação foi feita no início da época e com a consciência de que, se o Benfica não jogasse melhor do que na época passada, não ia ganhar nada, tal como neste ano ainda não ganhou nada. Ainda não está a jogar o triplo, embora já o tenha feito num ou noutro jogo. A equipa está numa fase de crescimento e acredito plenamente que, com o desenrolar de todas as competições, o Benfica vai ter um rendimento cada vez melhor. 

Como pensa ter a sua equipa na fase a eliminar na Liga Europa, para tentar alcançar a final da prova ou poder estar entre os favoritos?

Não tenho dúvida de que nos oitavos ou nos quartos de final da Liga Europa, chegando lá, teremos de estar ao melhor nível para disputar as eliminatórias com essas grandes equipas que vêm da Liga dos Campeões. Ainda ontem veio outra, o Manchester United... E teremos mais do mesmo nível, pelo que a competição vai ser uma segunda Champions, com as melhores equipas da Liga Europa e as que não conseguiram ficar na Liga dos Campeões. Vai ser uma prova muito difícil, porque as equipas fortes vão estar lá.

Estes jogos, em que vai dar mais minutos a alguns jogadores menos utilizados, também vão servir para perceber quem tem andamento para estar nesta equipa, numa altura em que se aproxima o mercado de transferências? Estes jogos podem ter influência nas escolhas?

Todos os jogos, para nós, equipa técnica, dão sinais de cada vez maior confirmação, ou não, do ponto de vista coletivo ou individual. Não há jogadores que estejam a fazer testes ou exames para que o futuro possa ser definido. Temos a certeza do plantel que temos, mas, como é óbvio, em função do tempo que vai passando, vamos ficando com maiores certezas da qualidade individual dos jogadores e do crescimento da equipa. É isso que me compete analisar e trabalhar em conjunto com os jogadores, porque é um processo de aprendizagem. Cada treinador tem a sua ideia de jogo, forma de trabalhar e de comunicar... O futebol não é uma ciência exata e cada treinador tem a sua forma de olhar para o jogo. É o criador do processo de treino, e é com os dias e com os meses que vai definindo o melhor caminho e as melhores ideias. Hoje, o futebol tem de dar outros passos para que não seja só isso.

Pizzi tem jogado em todas as competições e atuado em diversas posições, sendo o atleta com maior participação em golos na Liga Europa (cinco marcados e duas assistências). É um jogador muito influente para o que pretende na equipa?

O Pizzi tem uma vantagem em relação a outros jogadores: posso lançá-lo em várias posições. Por isso tem mais minutos, tem jogado quase sempre. Pelas suas características é mais solicitado pelo treinador, consoante a estratégia a adotar nos diferentes jogos.

Como classifica o que aconteceu nesta terça-feira em Paris na Liga dos Campeões [o jogo PSG-Basaksehir foi interrompido e suspenso após comentários alegadamente racistas do quarto árbitro ao treinador adjunto do clube turco]?

Não sei o que aconteceu, o que se falou, o que se disse. Como cidadão tenho direito de pensar à minha maneira e só posso ter uma opinião concreta quando souber o que foi dito naquele momento. Hoje, qualquer coisa que se possa dizer contra um negro é sempre sinal de racismo. Se se disser a mesma coisa contra um branco já não é sinal de racismo. Mas eu não sei o que foi dito…

Texto: Filipa Fernandes Garcia e João Sanches

Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica