Perfil de Corchia

Sébastien Corchia, de 27 anos, é o mais recente reforço do Benfica para a temporada 2018/19. O defesa-direito tem um passado nas seleções jovens francesas dos Sub-17 até aos Sub-21.

Nascido em Noisy-le-Sec, nos arredores de Paris, desde cedo que Corchia pensou em ser jogador de futebol. Se bem pensou, melhor o fez e em 1996 – com seis anos – começou a prática num clube perto de casa, o Rosny-Sous-Bois STO. Aí permaneceu até 1998, ano em que deu o salto para o Villemomble Sports.

Tinha oito anos apenas e ficou cinco épocas neste clube, até 2003, altura em que foi selecionado para participar na prestigiada Academia de Futebol Clairefontaine. Durante a semana desenvolvia os dotes para a modalidade nesta prestigiada escola de futebol e ao fim de semana jogava no AS Bondy.

Clairefontaine acabou por ser fundamental no futuro de Corchia, como fora de outros grandes nomes do futebol gaulês. Esta é uma das 12 academias de elite, por onde passaram Anelka, Louis Saha, Gallas, Ben-Arfa, Abou Diaby, Benatia, Matuidi, Mbappé e Giroud.

Anos mais tarde, o defesa-direito voltou a Clairefontaine e assumiu à Comunicação Social que era “bom regressar”.

NÚMEROS NAS SELEÇÕES FRANCESAS

Esta experiência enriquecedora levou-o até ao Paris Saint-Germain. Entre 2004 e 2006 esteve nos escalões de formação do clube da capital e este pulo abriu-lhe as portas das seleções jovens de França. Começou nos Sub-17 e continuou a crescer até aos Sub-21. No total soma 50 presenças, às quais se junta uma internacionalização pela principal equipa dos bleus, ocorrida a 15 de novembro de 2016, sob a alçada de Didier Deschamps diante da Costa do Marfim.

Dupla nacionalidade, duas opções

Filho de mãe italiana e pai francês, Sébastien Corchia tinha a opção de se tornar internacional A por dois países: França ou Itália. Por ser internacional jovem gaulês, o lateral dava preferência ao país de nascimento, mas, ainda assim, não deixou de alertar que nunca fecharia a porta aos transalpinos. “Tenho ligação a Itália, a minha mãe nasceu em Milão e ainda lá tenho família. Se o Conte me chamar, irei pensar nisso com toda a atenção”, referiu em 2016.

Não viria a ser necessário. Duas semanas depois de ter completado 26 anos, Deschamps deu-lhe a oportunidade de se estrear pela principal seleção francesa. Todavia, não mais voltou a jogar pelos gauleses e até Dugarry, em 2017, à RMC Sport, mostrou surpresa pela ausência do nome de Corchia nos eleitos de Didier Deschamps.

“O Corchia tem feito boas exibições no Lille e talvez merecesse ir à seleção francesa, mas Didier Deschamps é um pouco conservador. Ele defende bem, joga bem e gosto do estilo de jogo dele”, frisou.

Le Mans abre a porta da Ligue 1

Com 16 anos parte em busca do sonho, sai da zona de conforto e arranca rumo a Le Mans, a mais de 200 quilómetros de casa. A cidade é mais conhecida pela corrida de carros que tem a duração de 24 horas, mas Corchia preferiu o futebol.

Fez a parte final da formação – último ano de juvenil e juniores –, cujas exibições chamaram à atenção de Juventus e Arsenal. Este alegado interesse suscitou umas palavras do jogador dirigidas ao prestigiado jornal "L'Équipe": “Quando se é jovem e se ouve estes nomes, ficamos lisonjeados.”

Terminou a formação, passou pela equipa secundária do Le Mans até se estrear na Ligue 1 a 14 de fevereiro de 2009, na 24.ª jornada da época 2008/09. Frente ao Nice (derrota por 1-2) entrou aos 68’. Cumpriam-se os primeiros 22 minutos na principal divisão do futebol francês. Estava dado o mote para uma carreira em ascensão.

Yves Bertucci foi o treinador que o lançou, mas foi com Paulo Duarte, treinador português que está, atualmente, à frente dos destinos da seleção do Burkina Faso, que Corchia ficou dono do lugar de defesa-direito. Terminou a temporada de 2009/10 com 36 jogos realizados e dois golos apontados, curiosamente ao mesmo adversário: Valenciennes.

“Corchia vai acrescentar valor ao Benfica”

Ao Site Oficial do Benfica, Paulo Duarte (na foto) deu a conhecer um pouco mais sobre o novo elemento do plantel das águias. A conversa tida com o selecionador do Burkina Faso começou com a aposta que fez em Corchia para a titularidade.

“Essencialmente, tinha um jogador lesionado, um tunisino. E, em segundo lugar, vi um jovem irreverente e muito corajoso, e que tinha capacidade de integrar uma equipa sénior. Era atrevido e agressivo. Face à sua idade, facilmente se destacou e me deu confiança para apostar nele”, reconheceu.

Ao longo da carreira, o francês fez 27 assistências, o que demonstra a sua propensão ofensiva apesar de ser defesa.

“Faz muitas. É um lateral ofensivo, muito competitivo, que cruza e finaliza muito bem, nomeadamente livres diretos. Tem uma facilidade enorme em fazer passar a bola por cima da barreira e com muita força. Uma das suas características é marcar muito bem livres, sobretudo os frontais. Em tom de brincadeira até posso dizer que, nos treinos, em 10 livres, marcava sete ou oito e depois, no jogo, por vezes não marcava. Brincávamos com isso para lhe colocar responsabilidade”, revelou.

Mas um defesa quer-se bom a defender. Paulo Duarte enalteceu os aspetos defensivos que vem demonstrando ao longo da carreira.

“Defensivamente é muito aguerrido. É equilibrado a defender, no posicionamento, no timing de desarme e na leitura dos lances. É rápido, ofensivo e agressivo, mas também muito bom a defender”, acrescentou.

“É um excelente atleta e está dentro da maturidade que um jogador atinge. Tem um passado que fala por ele. Tem formação, passou por seleções francesas, foi titular em vários clubes na primeira liga francesa. Está no auge da carreira aos 27 anos. O Corchia vai acrescentar valor ao Benfica e é um bom reforço”, adiantou de seguida o selecionador do Burkina Faso.

E a pressão de jogar no Benfica e de enfrentar as exigentes bancadas do Estádio da Luz? Para Paulo Duarte, que o treinou no Le Mans, isso não será um problema.

“Foi titular no Lille. O Lille é uma equipa média/grande em França e ele está habituado a qualidade e a bancadas cheias. É experiente e vai aceitar bem a responsabilidade de jogar perante as exigentes bancadas do Estádio da Luz”, considerou.

Imprensa rendida na estreia de Corchia

Foram apenas 22 minutos, mas houve quem ficasse impressionado. O site desportivo de Le Mans “Ouest-France”, através do jornalista Stéphane Bois, analisou a estreia de Corchia na Ligue 1. Com o título “Sébastien Corchia, defesa sem medo e sem reprovação”, a peça considerou o reforço do Benfica “uma revelação”, lembrando que o defesa-direito conseguiu “estar bem no jogo”. “É uma promessa”, acrescentou a peça jornalística.

No final do desafio com o Nice, ao mesmo site, Corchia falou sobre a estreia; disse ter sentido “um pouco de pressão”, mas que rapidamente se desinibiu. “Queria fazer as coisas bem”, disse.

O jogador sublinhou, ainda, que “a presença do público, a intensidade do jogo e o impacto físico” não foram obstáculos. Corchia soube manter a concentração necessária, até porque, para o internacional pelas seleções jovens francesas, “isso está na cabeça do jogador”.

CARREIRA SÉNIOR DE CORCHIA

Faria mais duas temporadas pelo Le Mans antes de se mudar para o Sochaux em 2011/12. Novo clube, novo desafio, a mesma competência. Três temporadas a titular com vários golos e assistências a registar. O cariz ofensivo do lateral estava cada vez mais vincado no seu futebol e olhos estavam postos em cima de um jovem que despontava.

Em crescendo, a carreira de Corchia atravessa, a partir de 2014/15, um novo patamar, mais exigente. Seguia-se o Lille, clube médio/grande da Ligue 1, com vários títulos no currículo. O futebolista soube responder à responsabilidade a preceito e em três temporadas em Lille atuou sempre em mais de 40 partidas, destacando-se, ainda, nos livres diretos, uma das características do francês.

Cresceu, valorizou-se, ganhou experiência e 2017/18, com mais de 300 jogos feitos em França, viajou, de armas e bagagens, até Espanha para representar o Sevilha. Começou a titular, mas o período de adaptação a uma nova realidade competitiva e uma lesão que o fez parar dois meses não lhe permitiram jogar com a assiduidade com que o fizera no seu país.

O Benfica é o senhor que se segue, Clube onde Corchia quer mostrar a mesma qualidade e competência que registara no Le Mans, Sochaux, Lille e nas seleções jovens de França.

O homem por detrás do jogador

Como qualquer jovem, Sébastien Corchia também está por dentro do mundo das Redes Sociais, mas outros hóbis há que cativam o jogador. O defesa é grande fã de jogos de computador e aproveita as folgas ou os estágios da equipa para o fazer, sozinho ou acompanhado.

Adora passear e viajar, e em Sevilha – uma cidade nova para o francês – fê-lo com alguma assiduidade, mas há uma curiosidade ainda mais interessante em Corchia... Gosta especialmente de colecionar camisolas e tem várias de adversários com quem teve oportunidade de se cruzar. Entre os mais sonantes estão Ibrahimovic, Cavani, Niang e Verrati.

O que não passa ao lado de Corchia são as causas sociais. Para além da demonstração de carinho e apoio para com as vítimas do desastre ocorrido em Génova a 14 de agosto, dia em que caiu uma ponte na cidade, o francês juntou-se à causa “Todos por Stefi”, que visa ajudar a pequena menina de cinco anos na sua luta diária contra um tumor cerebral.

Texto: Marco Rebelo

Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica / Arquivo